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Vermes de Tchernóbil convivem com radiação sem problemas

Para cientistas, descoberta sugere que eles são excepcionalmente resistentes

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DW

A contaminação ambiental causada por acidentes nucleares apresenta riscos imediatos à saúde, mas ainda se sabe pouco sobre quais são os efeitos hereditários sobre as espécies nos locais contaminados.

Agora, pesquisadores encontraram vermes microscópicos que vivem no ambiente altamente radioativo da Zona de Exclusão de Tchernóbil, que parecem estar completamente livres de danos causados pela radiação.

É o que diz um estudo publicado na última terça-feira (5) na revista PNAS. Os pesquisadores descobriram que a radiação do acidente de Tchernóbil não afetou os vermes que habitam a área, uma descoberta que sugere que eles são excepcionalmente resistentes.

alguns vermes, com coloração escura, são vistos em superfície branca
Vermes encontrados na Zona de Exclusão de Tchernóbil observados por meio de microscópio - Sophia Tintori

Em 1985, um grave acidente nuclear num dos reatores diminuiu a potência da usina em 25%. Em 26 abril de 1986, duas fortes explosões destruíram o reator central, criando uma brecha no núcleo de mil toneladas. Seguiram-se outras explosões, provocadas pela liberação de vapor, espalhando uma nuvem gigantesca de radiação, contaminando 75% da Europa, da Irlanda do Norte à Grécia.

Na época, mais de 8 milhões de pessoas foram expostas à radiação e tiveram de deixar a área, mas animais, plantas e outros seres vivos continuaram a viver no local, mesmo com a alta radioatividade.

Quase 40 anos após após a tragédia, os cientistas observaram que os vermes microscópicos chamados nematóides (Oscheius tipulae) não sofreram nenhum dano em seus genomas.

Pesquisas anteriores já haviam constatado que os animais que vivem perto de Tchernóbil são fisicamente e geneticamente diferentes de seus pares em outros lugares, levantando questões sobre o impacto crônico da radiação no DNA das espécies.

"Tchernóbil foi uma tragédia de consequências indeterminadas. Ainda não temos uma visão clara dos efeitos do desastre sobre as populações das espécies locais", disse Sophia Tintori, uma das autoras do estudo, em um comunicado da Universidade de Nova York.

"Eu tinha visto fotos da Zona de Exclusão e fiquei surpresa com a aparência exuberante e coberta de vegetação; nunca pensei que ela estivesse repleta de vida", acrescenta.

Vermes em resíduo orgânico

No estudo, os pesquisadores coletaram, cultivaram e criopreservaram 298 vermes nematóides de áreas que variavam em radioatividade dentro da Zona de Exclusão de Tchernóbil. Sequenciaram 20 cepas de Oscheius tipulae e analisaram seus genomas em busca de evidências de aquisição recente de mutação. Os pesquisadores também compararam os genomas deles com os de outros vermes da mesma espécie de outras partes do mundo.

Os cientistas descobriram que os vermes de Tchernóbil não apresentavam danos em seus genomas e que suas alterações no DNA foram causadas por outros motivos que não a radiação.

Os vermes nematóides são ideais para o estudo, pois têm um genoma simples e se reproduzem rapidamente: "Esses vermes vivem em todos os lugares e têm a vida curta, por isso passam por dezenas de gerações de evolução, enquanto um vertebrado típico ainda está calçando os sapatos", explica o coautor Matthew Rockman.

Os cientistas alertam que, apesar de os vermes terem a incrível capacidade de resistir à radiação por tantos anos, não significa que visitar Tchernóbil seja seguro.

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