Alexandra Forbes

Jornalista, escreve sobre gastronomia e vinhos há mais de 20 anos. É cofundadora do projeto social Refettorio Gastromotiva e autora de livros de receitas.

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Alexandra Forbes

A nova Guerra de Canudos

Deu na Folha: “Considerando canudos de 6 milímetros de diâmetro, o volume ocupado pelo total usado pelos brasileiros em um ano equivale a um cubo de 165 metros de aresta, 50 metros mais alto que o Copan, em São Paulo”. E daí?, você pode perguntar. E daí que boa parte disso vai parar no mar, matando animais marinhos aos milhões. Se a coisa não mudar vai ter mais plástico do que peixe nos oceanos em 2050. Não é chute. Está escrito em um amplo estudo divulgado no Fórum Econômico Mundial em Davos.

Busquem por tartaruga e canudo no YouTube e acharão o vídeo viral de estudiosos tirando um canudo do nariz de uma tartaruga marinha nos mares da Costa Rica. Já foi visto por mais de 15 milhões de pessoas. Por essa e outras, esta semana assinei uma petição pedindo a abolição dos canudos plásticos nos McDonald’s dos Estados Unidos. Quando os gigantes sentem-se forçados a mudar, a boiada segue. 

A grande indústria tem tanta culpa quanto eu e você nessa história. Demonizar nas mídias sociais os gigantes que vendem bilhões de refrigerantes por ano é fácil. Só que os gigantes, pelo menos no Primeiro Mundo, estão se mexendo. A partir de maio, canudos passarão a ser de papel nos McDonald’s da Inglaterra, por exemplo. Nos M&S Cafés --fast foods que integram a vasta rede de supermercados inglesa Marks&Spencer—, só 1% das 52 milhões de bebidas vendidas por ano são servidas em descartáveis. Mike Barry, diretor de sustentabilidade, anunciou em abril que estão trocando os canudos e os talheres plásticos por papel e madeira, respectivamente.

Eu poderia dar muitos outros exemplos de iniciativas bacanas de multinacionais como Danone e Coca-Cola, que não só admitem serem parte do problema, como fazem algo concreto para solucioná-lo. Além de atacarem a questão dos canudos, buscam reduzir e melhorar embalagens como um todo. Já se pode até fazer garrafas PET usando cana de açúcar, cartolina, serragem ou casca de arroz.

Enquanto isso, o público consumidor, em sua grande maioria, segue consumindo e jogando fora sem se preocupar --especialmente em países mais pobres como o Brasil. Tente fazer a conta de quantos milhões de canudos são descartados só nas praias do Rio de Janeiro em um domingo de sol. É hora de botar a mão na consciência.

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