Alexandre Schneider

Pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia em Nova York, pesquisador do Centro de Economia e Política do Setor Público da FGV/SP e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo.

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Descrição de chapéu tecnologia

Escola fechada também ensina

Professores aprenderam a inserir as plataformas digitais e as redes sociais em suas aulas; a tecnologia mostrou que há limites para a educação

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Paradoxalmente, o ano em que as escolas foram fechadas foi de rica aprendizagem para a educação. Estudantes, professores, pais, estudiosos, profissionais de comunicação, autoridades públicas, proprietários de escolas e grupos de educação, todos aprendemos com o cruel fechamento das escolas em 2020.

Nenhum profissional foi tão escrutinado durante o ano de 2020 como os profissionais da educação. “Entramos” em suas casas, dobramos a jornada de trabalho e apoiando nossos filhos e fortalecemos a crença de que ensinar é um ofício que exige formação, dedicação e método. Algo que só pode ser alcançado por profissionais bem formados e valorizados.

A urgência e a incerteza ensinaram aos professores cumprir sua missão das mais variadas formas: na utilização de plataformas digitais, com a criação de materiais a partir de elementos da cultura digital —filmes, imagens, músicas e podcasts—, usando redes sociais para alcançar seus estudantes ou até mesmo indo até eles, dada a dificuldade de acesso à internet.

Foi o ano em que aprendemos os limites do uso da tecnologia na educação. Nossas escolas públicas não estão conectadas, muitos estudantes não têm computador em casa ou acesso à internet.

Há um enorme contingente deles que vive em habitações precárias e não tem um espaço adequado para se concentrar nos estudos. O ano de 2021 deve ser o do esforço para garantir o investimento na conexão de escolas e famílias.

Para além da questão do acesso, há o componente pedagógico: o uso de tecnologia nas escolas só terá sucesso se vinculado aos seu projeto pedagógico, às características da comunidade que atende e, sobretudo, às reais necessidades dos estudantes e professores.

Educação exige engajamento. Os relatos de estudantes cansados e desinteressados mesmo tendo as melhores condições para seguir com os estudos durante a pandemia nos mostram que há muito o que aprender em relação ao uso da tecnologia na educação.

Há professores que tiveram sucesso em manter seus estudantes interessados com o uso de tecnologias rudimentares, como mensagens de texto, e aqueles que não alcançaram metade de suas turmas com o uso de plataformas mais sofisticadas.

Aqui não necessariamente aprendemos algo novo, mas reforçamos o que já era sabido: uma equipe coesa, que sabe onde quer chegar, conhece seus estudantes e tem relação ativa com a comunidade a quem serve; tem mais chance de sucesso na escolha da melhor ferramenta de tecnologia educacional e de potencializar seus efeitos.

A pandemia deixou evidente o pouco valor que a sociedade brasileira dá à educação. A despeito da urgência da questão sanitária e de seu impacto sobre a já combalida economia brasileira, os efeitos danosos do fechamento das escolas ainda não deixaram de ser uma nota de rodapé na discussão pública.

Aos poucos as pesquisas vão demonstrando que mesmo em países desenvolvidos os estudantes aprenderam menos em períodos em que as escolas permaneceram fechadas e os efeitos sobre a saúde das crianças e adolescentes são severos.

Escola fechada faz mal à saúde, alertam associações de pediatras no Brasil e no Mundo. Buscar uma saída para reabri-las com segurança é a tarefa mais urgente no ano que se inicia. É por isso que, dentre outras medidas, os professores devem estar no grupo prioritário a ser vacinado contra a Covid-19.

A ampliação das desigualdades socioeconômicas preexistentes e a consequente ampliação de desigualdades educacionais implica na necessidade de ampliar o olhar da educação pública para além dos muros da escola.

Prefeitas e prefeitos que assumem seus cargos a partir de 1º de janeiro só terão sucesso na retomada se deixarem de lado o olhar setorial e desenharem políticas integradas nas áreas de saúde, assistência, renda e educação para manter os estudantes engajados e aprendendo com segurança.

Momentos desafiadores como os vividos em 2020 são sempre fonte de aprendizados. Entre o lamento e a esperança, os tempos difíceis exigem que escolhamos a segunda opção. É ela que nos leva à frente, construindo o futuro. Feliz 2021 com mais educação para todos.

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