Em entrevista a Anna Virginia Balloussier, Marcelo Crivella se diz injustiçado e perseguido por sua condição de bispo evangélico e sobrinho de Edir Macedo, líder da Igreja Universal. Está certo. Porque prefeito do Rio é que ele não é.
Trabalhando pela permanência no cargo que jamais ocupou, Crivella tenta justificar as cartadas eleitoreiras —como a censura a gibis em que personagens aparecem, segundo ele, a “rebolar o bumbum”. Adianta a estratégia para a campanha do ano que vem: atacara Rede Globo, grande inimiga e quiça responsável pelo abandono dos logradouros da cidade e pela falência dos serviços de educação, saúde, transporte.
Como o pregador interesseiro e preconceituoso que sempre foi, Crivella defende o corte de verbas para o Carnaval e nega a interferência da sua fé no desmonte da maior festa popular carioca. Mas é aí que ele se mostra doente do pé: invoca a gravação, por Bezerra da Silva, de um samba de sua autoria. Acontece que “Gente Fina”, a tal música, não é samba nem aqui nem no reino de Salomão.
Deus me perdoe, mas Crivella tem pinta de “comprositor”. Tremendo boi com abóbora, o samba-gospel —cuja letra fala de um “dizimista fiel” que é “maluco por Jesus”— só foi gravado por Bezerra da Silva depois da conversão do cantor à Igreja Universal, em 2001.
Trata-se de um Bezerra bem distante dos seus dias de verdadeira glória, quando apresentava um repertorio de denúncia social (não de servilismo), com farto uso de gírias e cortante bom humor.
Seus compositores eram camelôs, pedreiros, engraxates, garis, desempregados em geral. Assinavam Nonô do Morro Azul, Embratel do Pandeiro, Zé Dedão do Jacaré, Pedro Butina, Moacir Bombeiro, Barbeirinho, Adivinhão da Chatuba e Adelzonílton (autor de “Malandragem, Dá um Tempo” e velho conhecido deste colunista). Todos eles dariam melhores prefeitos que Crivella.
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