Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Descrição de chapéu jornalismo

Millôr nunca escreveu um romance porque não quis

O centenário do guru do Méier

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Na quarta (16), quando transcorre o centenário de seu nascimento, os admiradores de Millôr Fernandes poderão escolher um Millôr preferido para homenagear. As opções são muitas: jornalista, escritor, cartunista, pintor, teatrólogo, tradutor, roteirista, poeta, frasista, humorista e, englobando tudo, guru. Guru do Méier, como se autodeclarava.

Há o risco de que uma categoria seja esquecida: a de atleta. Aos 14 anos, faz-tudo em O Cruzeiro, Millôr era o que a gíria carioca chama de "piscina" —o cara que, ao chegar onde mora, bate na parede e volta para o trabalho. Passava o dia inteiro na revista, estudava à noite no Liceu de Artes e Ofícios, pegava bonde e trem, andava quilômetros. Enfim em casa, ouvia da avó: "Tem sardinha no fogão".

Sempre levou a sério o lado esportivo ou artístico. Nadou, pegou jacaré, remou, andou e correu à beira-mar, inventou o frescobol. Cheio de endorfina e a cabeça estalando de ideias, ia escrever e desenhar. Com mais de 70 anos de atividade na imprensa e dezenas de livros publicados, sem contar as peças encenadas, de sua autoria ou traduzidas, Millôr era cobrado por nunca ter feito um romance, que no Brasil funciona como selo de qualidade para o escritor.

Numa entrevista, Carlos Heitor Cony lembrou o caso de romancistas que eram humoristas: Jonathan Swift e Machado de Assis. Ao que Millôr rebateu: "Swift era maluco, foi até internado. E Machado eu acho devagar. Não teria motivo para imitar nenhum dos dois".

Preferiu parodiar Guimarães Rosa, reescrevendo à maneira dele a história de Chapeuzinho Vermelho: "No contravisto do caminho, Capuchinho Purpúreo ia à frente, a com légua de andada, no desmedo da floresta. O bornoz estornava demasias de gula, carnalidades, guleimas, bebeiras e pitanças pra boca de pessoa, a vó, sem nem aviso antes". Alguém duvida que Millôr, se lhe desse na telha, poderia escrever um romance?

"Autorretrato", sem data, de Millôr Fernandes.
"Autorretrato" - Arquivo Millôr Fernandes/Acervo Instituto Moreira Salles

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