Bia Braune

Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

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Bia Braune
Descrição de chapéu Natal

Ninjas no Natal usariam espionagem e assassinato em tretas familiares

Mais letais que Papai Noel, suas técnicas aprimoradas seriam capazes de aniquilar até as passas do arroz

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É a época do ano ideal para se perder amizades —e leitores. Quando me julgam mais fria do que a farofa que passa horas na mesa da ceia. Ou mais falsa do que a neve que cai sobre renas e Shreks gigantes de shopping. Uma voz dissonante, mas não solitária. Quase um disco da Simone rodando ao contrário.
Então é Natal? Odeio.

E se jamais sentei em colo de Papai Noel, não culpo suas barbas de algodão ou seus rou-rou-rous cansados, quiçá tabagistas. Minha mágoa com o bom velhinho —e tudo que diz respeito ao 24 de dezembro e seu enterro dos ossos— deve-se unicamente aos ninjas do Natal.

Na ilustração de Marcelo Martinez, uma árvore de Natal com uma estrelinha ninja em seu topo
Ilustração de Marcelo Martinez para coluna de Bia Braune - Marcelo Martinez

Nasci num lar que, em meados de novembro, já começava a ser feliz. Tínhamos luzinhas de todas as cores. Pão dormido que se transmutava nas mais perfeitas rabanadas. Uma majestosa árvore de plástico, frondosa de enfeites comprados no camelô. E a seus pés, uma área reservada à magia natalina.

"Aqui, Papai Noel deixará seus presentes à meia-noite. Basta você dormir e ele encontrar uma vaga para estacionar o trenó no céu."

De pijaminha e dentes escovados, do alto de cinco anos de existência, é óbvio que eu jamais acreditaria num ingênuo serviço de valet celestial. Influenciada por animes e pelo desenho das tartarugas na Xuxa, eu sabia a verdade: papai contratava ninjas que escalavam nosso prédio para entregar o cãozinho Snif Snif ou o Pense Bem que eu havia pedido. Simples assim.

Uma crença que só caiu por terra no Natal em que flagrei minha avó, na calada da noite, malocando debaixo na árvore a oferenda mais cruel de todas, sob o ponto de vista infantil: um embrulho com roupa.

Ali, perdi a inocência e o trauma se instaurou. Passei a ter o São João como festa favorita —sobretudo pelas comidas.

Hoje penso que meus ninjas do Natal poderiam ser incorporados ao calendário. Afinal, quem não deseja, ainda que secretamente, aprimorar técnicas de espionagem e assassinato numa data tão propícia a fofocas e tretas familiares? Sem contar com a principal tática do ninjutsu, perfeita para Natais: se esconder. Das trocentas caixinhas, das tias que perguntam dos namoradinhos.

Afiadas, espadas shinobi substituiriam as facas elétricas que fatiam o peru. O lámen do "Naruto" aqueceria nossas almas. Arremessadas ao som do bate-o-sino-pequenino, shurikens e estrelas de Belém conviveriam em paz no topo dos pinheiros. E o principal: mais letais do que Papai Noel, para o bem da humanidade, os ninjas aniquilariam de vez as passas no arroz da festa.

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