Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bruno Boghossian
Descrição de chapéu Eleições 2018

Acirramento alimentado por décadas é ameaça para eleição

Candidatos precisam buscar ponto de equilíbrio para evitar prejuízo coletivo

Os tiros disparados contra a caravana do ex-presidente Lula (PT) e as ameaças ao ministro Edson Fachin são signos de um acirramento político extremo no país.

Embora provocações e rivalidades possam parecer corriqueiras em disputas partidárias, é perigosa a naturalização de ameaças físicas graves a potenciais representantes e de intimidações a agentes do Estado.

No ambiente mais intenso da polarização político-institucional nos últimos anos, a comitiva de um pré-candidato a presidente foi alvo de ovos e pedras, impedida de seguir por vias públicas e, na quarta-feira (28), atingida por quatro disparos por armas de fogo.

No mesmo dia, um ministro do Supremo Tribunal Federal que tomou decisões contrárias a empresários e políticos revelou que sua família recebeu ameaças que o levaram a solicitar providências da presidência da corte.

Aceitar os graves e concretos ataques ao grupo de Lula ou as ameaças a Edson Fachin significa tolerar a política feita à força e o funcionamento das instituições na base da brutalidade.

Ao dizer, na noite de quarta, que os petistas atacados estão "colhendo o que plantaram", o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) praticamente chancela a ameaça física como ferramenta de disputa política. Esquece que ele mesmo deve entrar nessa arena, e que a polarização intensa pode perdurar até outubro.

O tucano mudou o tom 12 horas depois. Condenou a violência e afirmou que "é papel de homens públicos pregar a paz e a união entre os brasileiros". Mas voltou a alfinetar os petistas ao declarar que o país está cansado da "convocação ao conflito".

Ainda que os petistas —e Lula, particularmente— tenham alimentado um clima enraivecido de disputa contra seus adversários, não há contemporização possível para ataques armados contra políticos no Brasil de 2018.

Lula, Alckmin e os petistas que dizem que será necessário "morrer gente" antes que o ex-presidente seja preso precisam compreender que seus comportamentos enérgicos podem render aparentes benefícios imediatos, mas danificam a democracia. Eles alimentaram a polarização política ao longo das últimas décadas, mas precisam atingir em conjunto um ponto de equilíbrio —ou o prejuízo será coletivo.

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