Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bruno Boghossian
Descrição de chapéu Eleições 2018

Sem novidades, eleição acontece em bolhas e aprofunda divisões

Candidatos apelam a grupos cada vez mais homogêneos e estimulam guerra política

Brasília

A nova pesquisa Datafolha sugere que candidatos e eleitores se concentram em bolhas cada vez mais isoladas a caminho da campanha. Presidenciáveis atraem grupos homogêneos em vez de expandir suas plataformas, empurrando a disputa para um cenário de segregação.

A aglomeração do eleitorado em nichos aponta para o risco de divisões regionais e sociais ainda mais intensas do que a polarização entre PT e PSDB que marcou a política nos últimos 24 anos.

Jair Bolsonaro (PSL), por exemplo, tem os votos de 26% dos homens, mas é a opção de apenas 12% das mulheres. No Centro-Sul, o militar atinge 21%, contra 12% no Nordeste. Pontua 25% entre eleitores com curso superior, mas só 11% entre brasileiros com ensino fundamental.

De outro lado, Lula (PT) atrai 38% dos eleitores de baixa renda e  s ó 23% da população mais rica. Bate 49% no Nordeste, mas se limita a 22% no Centro-Sul. O ex-presidente não deve ser candidato, mas os dados revelam o perfil do espólio petista.

Acolhidos em seus times, eleitores de Bolsonaro e Lula são aqueles que mais rejeitam votar em outros candidatos. Também declaram voto nulo em proporções acima da média nas simulações de segundo turno que não incluem seus favoritos.
 

A ocupação firme dos segmentos preenche o vácuo que candidatos como Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) buscam para crescer. Eles esperam dispersar essas concentrações quando as engrenagens da campanha começarem a girar.

A pulverização estimula o apelo aos nichos. Com tantos nomes na disputa, 15% podem ser suficientes para se chegar ao segundo turno. Para isso, basta que o candidato fale aos seus. Não precisa se expor ao público amplo dos debates da TV.

As características desta pré-campanha indicam que o país poderá ir às urnas fragmentado. Não será fácil reorganizar o eleitorado e atingir uma maioria no segundo turno. O próximo presidente poderá tomar posse em um país tão conflagrado politicamente quanto em 2014-2015.

 
 
 
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