Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bruno Boghossian

Cordão sanitário de Bolsonaro vai resistir no segundo escalão?

Políticos creem que presidente pode ceder cargos menores para aprovar projetos

Os partidos tomaram um inibidor de apetite para aguentar a escalação do ministério de Jair Bolsonaro. Dirigentes entenderam que o presidente eleito falava sério ao prometer barrar indicações políticas na montagem do governo. A maioria topou o jejum dos últimos 30 dias, mas não pretende morrer de fome.

A paulada eleitoral de outubro foi tão forte que praticamente nenhum líder ousou reclamar em público da falta de espaço nos postos estrelados da administração. A cobiça pelo poder, no entanto, continuou viva e deve desaguar na cobrança por cargos em escalões inferiores.

O presidente eleito, Jair Bolsonaro - Pedro Ladeira/Folhapress

A dúvida sobre as próximas etapas da composição do governo é se o cordão sanitário de Bolsonaro funcionará também nas autarquias, superintendências regionais e delegacias estaduais dos ministérios.

Para deputados e senadores, algumas dessas vagas locais são consideradas mais valiosas do que as chefias das pastas, já que ficam em contato direto com suas bases eleitorais. Um superintendente pode resolver um pedido de um prefeito e facilitar a liberação de verba para uma obra num município, por exemplo.

A distribuição desses cargos aos parlamentares é a ferramenta mais básica do manual da articulação política. Aceitar a indicação de um diretor ou demitir um delegado regional apadrinhado por um deputado é um modo simples de controlar a fidelidade individual nas votações.

Dirigentes partidários acreditam que Bolsonaro será obrigado a fazer concessões nesses postos. Para acumular capital político e aprovar seus projetos, o presidente eleito repartiria entre integrantes da base aliada cargos com menor visibilidade.

As barreiras de contenção da máquina pública costumam enfrentar testes eminentemente políticos. Quando fez a faxina em seu primeiro governo, Dilma Rousseff tirou o PR do comando do Dnit e nomeou um general. Jorge Fraxe ficou três anos no cargo, até que chegou 2014, ano de campanha. A presidente rifou o militar e devolveu a vaga ao partido em troca de apoio a sua reeleição.

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