A crise econômica deu as caras na corrida presidencial. O eleitor de baixa renda, que sente com mais força o peso da inflação e do desemprego, empurra as candidaturas Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) em sentidos opostos.
A nova pesquisa do Datafolha traz o ex-presidente com 56% das intenções de voto no eleitorado mais pobre, igualando o melhor desempenho eleitoral do PT no segmento de baixa renda.
Já Bolsonaro, um presidente em busca da reeleição, aparece com apenas 16% das intenções de voto nesse segmento –uma espécie de punição pela crise.
As fotografias dessa faixa da população vão definir o cenário eleitoral até outubro de 2022, por dois motivos principais: a dimensão desse segmento (metade do eleitorado brasileiro tem renda de até dois salários mínimos, segundo o Datafolha) e as previsões de que a economia deve continuar enfrentando tropeços ao longo do ano que vem.
Os números da pesquisa sugerem que, até aqui, o eleitor de baixa renda atribui a Bolsonaro uma parcela de responsabilidade pela crise, enquanto Lula parece se beneficiar de uma memória da situação econômica experimentada durante seus governos, de 2002 a 2010.
É significativo que o ex-presidente, fora do cargo há mais de uma década, apareça nesse segmento com um índice semelhante ao que ele alcançou no primeiro turno de 2006, na campanha à reeleição.
Na véspera daquela votação, Lula tinha o apoio de 55% dos eleitores com renda de até dois salários mínimos, contra 29% do segundo colocado, o então tucano Geraldo Alckmin.
Aquela disputa marcou uma transformação no eleitorado do PT. Até então, o partido tinha um desempenho melhor na classe média e em fatias mais ricas da população. O impacto de políticas de redução da pobreza, como o Bolsa Família, impulsionou o partido na base da pirâmide de renda.
Nos anos seguintes, os petistas mantiveram vantagem sobre seus adversários nesse segmento, mas não voltaram a romper a barreira dos 50% das intenções de voto entre os mais pobres às vésperas das votações de primeiro turno.
Desta vez, o petista está na oposição, e quem tem a máquina do governo para bancar um programa de transferência de renda é Bolsonaro –ainda que haja dúvidas sobre o efeito político dos R$ 400 do Auxílio Brasil.
A vantagem construída por Lula, no entanto, indica que o atual presidente terá dificuldades para recuperar espaço nesse segmento.
A diferença entre os dois indica uma mudança considerável em relação à campanha de 2018. Na véspera do primeiro turno, Fernando Haddad (PT) tinha 29% das intenções de voto entre eleitores de baixa renda, contra 25% de Bolsonaro. Nem no segundo turno o petista alcançou os índices que Lula ostenta agora.
Na corrida de 2022, o avanço do ex-presidente nesse grupo fica nítido também na pesquisa espontânea –que permite uma comparação menos ruidosa dos levantamentos feitos ao longo da pré-campanha.
Em maio, 24% dos brasileiros com renda de até dois salários diziam votar em Lula antes mesmo de ver a cartela com os nomes dos possíveis candidatos. Em dezembro, esse índice chegou a 36%.
Na pesquisa estimulada (com os nomes dos pré-candidatos à mostra), a vantagem de Lula sobre Bolsonaro aparece de maneira acentuada nos estratos que concentram eleitores de baixa renda.
Entre quem procura emprego, o petista tem 62% das intenções de voto no primeiro turno, contra 16% de Bolsonaro. No Nordeste (67% dos eleitores com renda de até dois salários), Lula aparece com 61%, contra 17% do atual presidente.
O mau desempenho da economia não terá efeitos apenas na base da pirâmide. Em segmentos de renda média, a vantagem que Bolsonaro teve em 2018 derreteu.
No eleitorado que recebe de dois a cinco salários mínimos, Lula tem 42% no primeiro turno, contra 28% do presidente. Na última eleição, Bolsonaro superou Haddad por 41% a 19% nessa etapa da disputa.
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