Na corrida presidencial de 2014, Dilma Rousseff enfrentou uma campanha marcada por um espírito de mudança. A petista teve que pedir mais um mandato aos eleitores com a promessa de fazer um segundo governo diferente do primeiro. A equipe de marketing bolou uma linha de comunicação que falava em "continuidade com mudança" e ajudou a garantir a reeleição apertada.
O sentimento de mudança costuma assombrar governantes que brigam para ficar no poder. Na disputa deste ano, Jair Bolsonaro caminha lado a lado com esse fantasma. Números do Datafolha coletados no início de setembro apontaram que 72% dos eleitores preferem que a maior parte das ações do próximo presidente seja diferente das atuais.
A imagem de continuidade se revela um peso para a campanha de Bolsonaro. Apesar de ter conseguido diminuir seus índices de reprovação, 42% dos eleitores ainda consideram o governo ruim ou péssimo. Há exatos oito anos, Dilma apresentava uma taxa de 24% nesse quesito.
Bolsonaro tentou recuperar fôlego ao ensaiar algo parecido com gestos de mudança. O principal exemplo foi a manobra do governo para turbinar o Auxílio Brasil no meio da campanha, depois de três anos e meio de indiferença e até oposição às políticas sociais.
O problema do presidente é que essa virada não foi recebida com entusiasmo pelo eleitor, que depositou pouca confiança nessa plataforma.
No somatório geral, o discurso da continuidade foi suficiente para consolidar o voto dos apoiadores fiéis de Bolsonaro, mas a sinalização de uma correção de rumos não teve credibilidade para agregar o número de eleitores de que ele precisa.
Isso explica por que Bolsonaro adotou o antipetismo como virtual aposta única nesta fase da campanha. O objetivo é tirar do centro da disputa presidencial qualquer julgamento sobre seu desempenho no cargo ou discussões sobre como seria o próximo mandato. O capitão espera se eleger, pela segunda vez, com um cheque em branco.
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