Cristiano Zanin não gastou energia para se desfazer da credencial de "advogado pessoal" de Lula. Seria um esforço inútil. Depois de ter sido classificado pelo próprio presidente como amigo e companheiro, o próximo ministro do STF aceitou se mudar para o tribunal com esse rótulo.
Sem negar a proximidade, Zanin buscou outro caminho. Nas oito horas de sabatina, o advogado argumentou que a convivência com Lula não criou uma relação de subordinação, mas permitiu que o presidente tivesse certeza de que ele seria um ministro que se guiaria "exclusivamente pela Constituição".
Zanin terá o privilégio de provar suas posições já no conforto de uma cadeira do STF. Como em quase toda sabatina, o indicado de Lula foi poupado de apresentar interpretações contundentes da legislação e acabou aprovado para a vaga sem ter que opinar sobre temas espinhosos.
Inquirido pela oposição, o futuro ministro disse que as drogas são "um mal que precisa ser combatido", mas não quis tomar partido sobre a descriminalização do porte. Pulou fora de uma discussão sobre o aborto ao reconhecer o "direito à vida" como garantia fundamental, com as ressalvas já existentes na lei.
Na prática, Zanin apenas adiou para depois da posse alguns conflitos inevitáveis. No STF, ele terá que mostrar se a cautela o aproxima de uma visão conservadora da Constituição (que deixa mudanças de interpretação nas mãos do Congresso) ou da esquerda lulista (que preferia um notório "progressista" na vaga).
O futuro ministro abandonou o equilibrismo ao citar o amplo direito de defesa como pilar de sua atuação. Zanin tocou, então, a música que agrada aos grupos que testemunharam os excessos da Lava Jato.
Mesmo essa visão terá seu alcance testado só depois que Zanin estiver no cargo. Na sabatina, ele atacou a chamada "fishing expedition" –coleta especulativa de provas usada por Alexandre de Moraes e alvo de bolsonaristas. O novo ministro mostrará se considera a prática ilegal ou se ela valeria em casos excepcionais.
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