Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros
Descrição de chapéu Eleições 2022

Moro sofre com desorganização da direita pós-Lava Jato

Direita não bolsonarista preserva ex-juiz como opção, mas ninguém grande aderiu à sua candidatura até agora

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Na semana passada o site O Antagonista publicou um texto do jornalista Cláudio Dantas especulando sobre a possibilidade de Sergio Moro desistir de sua candidatura presidencial para se candidatar a deputado federal.

O Antagonista sempre funcionou como porta-voz de Moro, o que criou a sensação de que o próprio ex-juiz quis que a ideia circulasse.

Se era para desistir tão cedo, por que Moro se lançou candidato?

Se esperava uma grande onda nacional que o levasse à liderança das pesquisas, leu muito errado a situação política. A onda da Lava Jato foi em 2018. Moro apoiou Bolsonaro. Deu nisso aí. Como diria a voz da consciência do apresentador Monark, "achou que ia acontecer o quê?".

O ex-ministro Sergio Moro
O ex-ministro Sergio Moro - Adriano Vizoni/Folhapress

O mais provável é que Moro esperasse um número maior de apoios políticos. A chamada "terceira via" é a centro-direita brigando para tomar de Bolsonaro a liderança do campo conservador.

Moro esperava que, a essa altura, empresários, líderes religiosos e, sobretudo, líderes dos partidos de centro-direita estivessem entusiasmados com sua candidatura. Isso não aconteceu.

A direita não bolsonarista vem preservando Moro como opção, mas ninguém grande aderiu à sua candidatura até agora.

E a decisão de apostar errado as fichas políticas da Lava Jato está cobrando seu preço.

O que havia de movimento político em volta da operação até 2018 foi engolido pelo bolsonarismo. Isso quer dizer que Moro precisa ser candidato por um dos partidos que já existiam antes da Lava Jato, mesmo se com nome diferente.

O Podemos, por exemplo, era o PTN, e já começou bem roubando o nome de um partido de esquerda espanhol.

Também é possível que Moro tenha percebido uma articulação forte em torno de outra candidatura de "terceira via", o que lhe tiraria toda e qualquer chance de não dar vexame na eleição. Mas que articulação seria essa?

Os tucanos estão fazendo o bonito de sempre. Ninguém sabe quem será o anti-Lula, mas o anti-Doria já sabemos que será o próprio PSDB. Há uma conspiração de tucanos para derrubar a candidatura do governador de São Paulo acontecendo em plena luz do dia.

Se o plano for lançar Eduardo Leite, é difícil pensar em um início pior de campanha: "Vote em mim, eu fiz uma mutreta pra derrubar o cara que ia ser candidato antes". A propósito, ministro Queiroga, isso é um diálogo hipotético, não escreva para a Folha de novo reclamando.

Outra alternativa para os tucanos rebelados seria levar o partido para outra candidatura, como a da senadora Simone Tebet, do MDB.

Ainda não sabemos o quão para valer é a candidatura de Tebet. A senadora é um nome forte, teve grande atuação na CPI da pandemia e é boa debatedora e articuladora capaz.

Por outro lado, quantos candidatos o MDB lançou nas últimas décadas só para abandoná-los e apoiar o líder das pesquisas? É mais fácil responder assim: com qual candidato do MDB isso não aconteceu?

Enfim, o que Moro está descobrindo é que, depois que as energias políticas da Lava Jato foram canalizadas para o bolsonarismo, a "velha política" sobreviveu, mas os partidos de direita melhorzinhos se deram mal.

Se Moro quer um partido grande, que tenha preservado sua estrutura nos últimos anos e, mesmo tendo tido esquemas, nunca tenha sido só um esquema, não vai ter jeito: terá que disputar as prévias do PT com Lula.

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