Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros
Descrição de chapéu Governo Lula

Lula deve recalibrar Lula

Presidente deveria falar menos de Bolsonaro e buscar falar diretamente com evangélicos

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A popularidade do governo caiu. O Datafolha de sexta-feira mostrou que a aprovação de Lula (35%) está mais ou menos empatada com sua rejeição (33%). Não é um resultado ruim, mas piorou desde o ano passado.

Muita gente correu para colocar a culpa na área de comunicação do governo, em especial no ministro Paulo Pimenta. Não há dúvida de que há o que melhorar. Mas o trabalho da Secretaria de Comunicação é apenas uma pequena parte da comunicação do governo.

O presidente Lula durante lançamento do Plano de Juventude Negra Viva, em Ceilândia (DF)
O presidente Lula durante lançamento do Plano de Juventude Negra Viva, em Ceilândia (DF) - Gabriela Biló - 21.mar.24/Folhapress

É Lula quem faz a maior parte do trabalho. Quando ele fala, é o governo falando. É dele que cobramos explicações quando algo dá errado. Por isso, quem tem mais margem de manobra para melhorar a comunicação do governo é o próprio presidente.

Em primeiro lugar, Lula deveria falar menos de Bolsonaro. Deixe o Jair para a polícia, Lula. Você foi eleito pelos pobres porque Bolsonaro, em quatro anos, só lhes entregou brigas no Twitter e golpe de Estado.

Você lhes prometeu um governo. É sobre isso que você deve falar ao Brasil: sobre seu governo.

Afinal, você tem boas notícias para dar. Por exemplo, no dia 9 de março, a Folha publicou os resultados de um estudo de Marcos Hecksher, do Ipea. O estudo mostrou que os rendimentos do trabalho subiram 11,7% em 2023, o maior aumento desde o Plano Real. Na mesma matéria, o economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas, contou que a renda domiciliar per capita brasileira subiu 12,5% no ano passado.

São resultados excelentes, frutos do aumento de gasto com pobre: o salário mínimo voltou a ter aumento real (o que não houve na era Bolsonaro), o Bolsa Família foi turbinado.

Quando os brasileiros ouvem Lula falando na TV ou nas redes, deveriam estar ouvindo-o falar mais de coisas como essa, e menos do Jair.

Em segundo lugar, Lula tem que recalibrar suas intervenções sobre política externa.

Conheço gente no PT que admite que Lula errou ao comparar o bombardeio de Gaza ao Holocausto. Lamentam, inclusive, que isso tenha tirado o foco do posicionamento de seu governo sobre o conflito no Oriente Médio, que é bom. A decisão de doar dinheiro para a agência que apoia os refugiados palestinos, em especial, honrou muito a diplomacia brasileira. Mas no fim das contas, se a discussão sobre o governo está em "o que foi o Holocausto?", a oposição ganhou o round.

Finalmente, Lula deveria falar diretamente com os evangélicos. O presidente tem resistido a fazer isso. Acha que, se conseguir elevar o nível de vida dos pobres, automaticamente conquistará os evangélicos, que são, em sua maioria, pobres.

Há muita verdade nisso, mas é preciso tomar cuidado com o "automaticamente". Se os evangélicos continuarem isolados na bolha de desinformação bolsonarista, o mesmo aumento de preço do feijão pode disparar a rejeição a Lula mais rápido entre eles do que entre o restante da população.

O debate público brasileiro é muito mais hostil do que nos governos anteriores de Lula. A polarização impõe um teto aos dois lados. Quando Lula tinha 70% de popularidade, era porque muita gente de direita o apoiava. Depois do bolsonarismo, isso ficou muito mais difícil. O cuidado para não desperdiçar popularidade tem que ser maior.

Lula não tem poder para calibrar a economia mundial, o El Niño, nem tantos outros fatores que influenciam sua popularidade. Mas Lula pode calibrar Lula.

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