Cida Bento

Conselheira do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), é doutora em psicologia pela USP

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Cida Bento

Voto da mulher negra é decisivo

Eleição do ano que vem permite escolha de quem representa a maioria da população

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Roupas brancas, flores e oferendas a Iemanjá, beira do mar, sete ondas a serem puladas e sete pedidos a serem feitos, deverão marcar a virada do ano em muitas cidades brasileiras. Estes rituais expressam a riqueza das religiões afro-brasileiras que arrebatam também fiéis de diversas outras religiões.

Renovação, novos sonhos, desejos de boas realizações são positividades que marcam os encontros no despertar do ano.

Com certeza, o despertar de 2020 trará inquietações, mas possibilidades de mudança e renovação também se colocarão.

A despeito de um cenário cheio de desafios após um longo período em que a desesperança não parou de crescer, é possível vislumbrar sinais das transformações que estão por vir. 

Temos a estratégica tarefa de debater, construir e compartilhar uma interpretação consistente sobre as verdadeiras causas das dificuldades de sobrevivência que a maioria da população brasileira vem enfrentando, e este debate pode ressignificar o voto. É neste momento, com voto, que a maioria da população, que é feminina e negra, pode mudar o jogo!

Os últimos anos foram pedagógicos para mostrar a importância de escolhas de representantes que têm uma história (e não um discurso) de compromisso com a maioria da população brasileira.

Um dos desafios que temos em 2020 é evitar o voto naqueles representantes de partidos que, uma vez no parlamento ou no Executivo, tomam decisões de costas para os interesses da população que os escolheu. 

Se, como revelam os dados da Pesquisa da Oxfam e Datafolha, mais de 80% dos brasileiros consideram que é obrigação do Estado diminuir as diferenças entre os muito ricos e os muito pobres, 75% concordam que as escolas públicas de ensino fundamental e médio são direito de todos e 73% defendem o atendimento universal em postos e hospitais, não faz sentido que as votações dos parlamentares tenham caminhado na direção exatamente oposta. 

Quais partidos votaram em propostas contrárias às necessidades da maioria da população brasileira? Precisamos listar o nome destes partidos e disseminar a informação.

O perfil dos parlamentares, concentrando maioria masculina, branca, com forte representação empresarial, precisa ser modificado, pois estes parlamentares desenvolveram, ao longo dos séculos em que se alternaram no parlamento, uma maneira viciada de lidar com o poder e os recursos financeiros.

Neste sentido, é fundamental escolher partidos que discutam democraticamente e tornem público de forma transparente as regras que utilizarão para a definição de candidaturas e para a distribuição dos Fundo Eleitoral, de forma a assegurar a proporcionalidade de mulheres, de negras e negros, de jovens, de povos indígenas e dos diversos segmentos que compõe cada cidade onde se dará o pleito.

Apesar do desânimo frente aos acontecimentos dos últimos anos, vale a pena apostar na mudança. Instituições públicas e privadas de diversas áreas estão investindo esforços para se tornarem mais equânimes, como resposta à pressão crescente dos movimentos sociais. O mesmo há de ocorrer com as instâncias parlamentares, embora os desafios e os caminhos a percorrer sejam outros.

Vamos dar sentido aos anseios por renovação e transformação que devem marcar o início de 2020. Nossa africanidade e feminilidade negra, que constitui a cultura brasileira e arrebata milhões de pessoas nos rituais de fim de ano, é um indício da força que temos para mudar este jogo, tornando o Brasil mais humanizado, plural e justo.

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