Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Claudia Costin

Construindo pontes entre o ensino técnico e o superior

Modelo adotado em escolas coreanas pode servir de inspiração

Fui, na semana passada, proferir uma palestra na Universidade de Sussex para alunos do Instituto de Estudos do Desenvolvimento, um centro de ensino e pesquisa voltado à promoção de políticas públicas para redução das desigualdades. 

Falei com os estudantes sobre os desafios da educação em países em desenvolvimento num mundo em transformação e pude ouvir seus relatos sobre como havia sido o contato deles com a educação básica em países como o Paquistão, a Índia, a Arábia Saudita, ou a Nigéria. 

Um grupo de alunos brasileiros ouvia atento a apresentação e agregava informações sobre o Brasil.

No final, aprendemos todos com essa troca e projetos interessantes podem surgir daí. Parte disso resulta de um processo interessante de internacionalização das universidades, fato que também ocorre aqui.  

Recebemos nas universidades brasileiras alunos de diversos países, temos parcerias com escolas de várias partes do globo e, com isso, podemos nos beneficiar de achados científicos e de pesquisas de ponta em diferentes áreas.

Mas há alguns problemas que impedem que aproveitemos esse intercâmbio. O ensino superior, apesar de progressos, ainda se mantém distante das necessidades de desenvolvimento econômico do país. 

Alunos de curso técnico durante aula em laboratório de mecânica em Indaiatuba (SP)
Alunos de curso técnico durante aula em laboratório de mecânica em Indaiatuba (SP) - Lalo de Almeida - 30.nov.12/Folhapress

Além disso, dada a baixa qualidade de etapas anteriores, as universidades recebem alunos sem as competências necessárias para a vida acadêmica e as formações resultam em reduzida empregabilidade. 

Com isso, algumas pessoas tendem a lamentar a busca, por parte dos jovens, de formação universitária, em vez de seguirem o caminho do ensino técnico —menos árido e com maior potencial de empregabilidade. Mas os dados não confirmam essa percepção.

Apenas 18,1% dos jovens de 18 a 24 anos estão matriculados no ensino superior. A porcentagem é muito inferior à de países europeus. O mesmo se passa com o ensino técnico e profissional: só 9% dos alunos da rede pública dirigem-se a cursos dessa modalidade, o que também é muito inferior ao que praticam países com bons sistemas educacionais.

Neste contexto, o que fazer? Priorizar o ensino médio técnico, favorecendo a empregabilidade dos jovens, ou enviar alunos ao ensino superior? 

Provavelmente a solução seria integrar as duas opções, construindo uma ponte em que os alunos que assim o desejarem possam primeiro completar sua formação profissional numa área e nela trabalharem por certo tempo, tal como ocorre nas “meister high schools”coreanas. 

Estas oferecem cursos técnicos de ponta e os jovens podem, depois de três anos trabalhando, cursarem faculdade, para aprofundar seus conhecimentos.

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