Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Aprender na dor ou lições de uma educação sob ataque

A escola não será mais a mesma, e ganhos obtidos durante a pandemia podem se tornar permanentes

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O enorme esforço que redes educacionais de muitas partes do mundo têm feito para tentar mitigar os danos que o coronavírus tem trazido para a aprendizagem dos alunos mais vulneráveis tem sido impressionante. Na minha atividade profissional, dando mentoria para secretários de Educação de municípios e estados, não raro pude vê-los exaustos, dados seus desafios com a queda de arrecadação e o agravamento da pandemia, para manter seus professores engajados e motivados nessa tarefa.

Mesmo assim, professores se voluntariam para gravar programas de TV, já que a internet, apesar de 75% dos brasileiros a ela terem acesso, de acordo com levantamento do TIC Domicílios, não chega a todos os lares e, quando chega, nem sempre tem estabilidade. Outros percorrem distâncias para entregar cadernos de exercícios para alunos da zona rural ou para interagir com famílias isoladas.

Não foram poucas as formações dadas aos docentes para uso de plataformas digitais para o processo de ensino. Mas, como todo curso feito às pressas, elas se mostraram insuficientes. Nem todos os professores conseguiram se organizar para atuar neste novo meio e nem todos os alunos conseguiram acessar ou se manter concentrados durante o processo de aprendizagem em casa.

O ministro do STF Luís Roberto Barroso - Divulgação/TSE

Se somarmos a esse fato o estresse das famílias que perderam fonte de renda ou, pior ainda, entes queridos e mesmo com esse sofrimento veem-se instadas a acompanhar tarefas remotas dos filhos mais jovens, temos uma quase certeza de desastre.

Só que não, como dizem os jovens em redes sociais. A humanidade muitas vezes aprendeu em meio à dor, e isso serve também para a educação formal. Os aprendizados que ocorrem hoje à distância de mestres e de estudantes de escolas públicas têm evitado um maior crescimento das desigualdades educacionais e, de alguma maneira, construído as bases para um processo de ensino mais contemporâneo para quando acabar o distanciamento social.

A escola não será mais a mesma. Ela deverá incorporar tudo o que aprendemos na dor. Sim, a abordagem adotada por muitos estados e municípios foi até certo ponto precária e amadora, mas o empenho em tentar evitar a tragédia foi intenso e assim continuará no retorno às aulas. De certa maneira, tanta luta logrou trazer um pouco de ganhos que, eventualmente, poderão se tornar permanentes.

Nesse sentido, em tempos em que é necessário defender a educação de ataques vindos de quem a deveria proteger, foi muito bom ver um ministro do Supremo nos lembrar que “a educação não pode ser capturada pela mediocridade, pela grosseria e por visões pré-iluministas de mundo”. Obrigada, ministro Barroso!

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