Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Democracia e humanismo, em defesa da diversidade

Sem preservar instituições democráticas sólidas seremos uma espécie em extinção

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Bill Clinton, numa definição que faz muito sentido, costumava dizer que a democracia é o governo da maioria, respeitados os direitos das minorias. A condução dos negócios públicos levando em consideração apenas o que hoje a maioria da população prefere pode nos colocar em choque com necessidades de minorias que precisam de alguma forma de proteção do Estado.

A definição põe em evidência certa tensão entre um conceito mais restritivo de democracia e uma concepção humanista da vida. A maioria da população de um país pode estabelecer consensos que contrariem direitos de grupos étnicos aí instalados, ou presentes em países ocupados, como ocorreu na Alemanha durante o período nazista ou nas chamadas "Blood Lands", por ações dos exércitos de Stálin e de Hitler, nos anos 1930 e 1940.

Além disso, como lembra outro ex-presidente americano, Barak Obama, em seu recente "Terra Prometida", há questões que clamam por ação cooperativas de governos, por serem desafios que ultrapassam fronteiras e podem colocar a humanidade em risco. Cada vez mais, como evidenciou a pandemia da Covid-19, a resolução colaborativa de problemas entre países se torna um processo fundamental.

Mas isso não se relaciona só à questão dos territórios afetados por crises. Envolve também nossa condição humana compartilhada, dentro e fora das fronteiras. No primeiro caso, líderes populistas costumam excluir alguns cidadãos de seu país da definição de nacionalidade legítima, referindo-se aos "verdadeiros americanos" ou aos "franceses de sangue", como mostra Jan Müller em seu "O que É o Populismo".

Fora das fronteiras, um importante marco a orientar as ações é a Declaração Universal dos Direitos do Homem, estabelecida em 1948, logo após a Segunda Guerra. Com ela, não é mais possível pensar em uma democracia que decida que grupos humanos, seja em que país for, possam ser excluídos da garantia dessas conquistas.

A humanidade avançou muito depois da aprovação da Carta, e a consciência de que a diversidade nos enriquece e nos permite construir um mundo mais pacífico conduziu a uma leitura mais generosa dos direitos ali estabelecidos.

Perder esses avanços civilizatórios por conta de medos que se incorporam em maiorias vociferantes pode ser tão perigoso quanto perder a ideia mesmo da democracia. Há que se construir e preservar instituições democráticas sólidas, temperadas por uma forte defesa do que nos define como humanos, e instilar nas crianças e jovens, em cada escola, a cada geração, esse ideário. Sem isso, não há futuro para a humanidade no planeta. Seremos outra espécie em extinção!

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