Desde o milagre dos R$ 89 mil, que ninguém sabe e ninguém viu, abro todos os dias o aplicativo do banco na esperança de que a multiplicação dos dinheiros também dê as caras na minha conta. Até o momento, nada.
São Judas Tadeu na carteira, Santo Expedito tatuado no braço, velas para Santo Onofre. Ao contrário do saldo bancário, a fé do povo é grande. Mais de 65 milhões de brasileiros rezam para o auxílio emergencial ser depositado por mais dois meses. De quanto vai ser, depende da queda de braço entre o demônio e o cramulhão.
Com isso na cabeça, veio a inspiração divina. Antes que alguém reclame, Deus não tem a ver com o assunto. “Divina”, aqui, é gíria: poderosa, lacradora, maravilhosa. Minha ideia é simples e, já aviso, vou registrar.
Estou fundando a Igreja de São Queiroz dos Últimos Dias. Agora vai.
Será uma igreja aberta a todas e todos, empregados, desempregados, informais, desalentados, CCs, funcionários fantasmas. Devido ao distanciamento social, os cultos serão remotos. Cada um no seu quadrado, mas unidos pela mesma crença: um dia, R$ 89 mil vão aparecer na conta e resolver os problemas da geral.
Ao contrário de outras instituições religiosas, nessa o dízimo não será cobrado. Atuaremos na área da rachadinha. Quando entrar algum, o fiel deixa metade na porta que São Queiroz passa lá e recolhe. Se ele não puder, envia um auxiliar disfarçado de miliciano —para não dar muito na vista. Não precisa ficar assustado, o fuzil é só decorativo.
Se o carvão estiver no lugar combinado, claro.
Em algum momento, não se sabe quando, São Queiroz fará voltar a contribuição de suas ovelhas na forma de um polpudo, e anônimo, depósito. E mais: se os R$ 89 mil não aparecerem na sua conta ainda nessa vida, você continua a ter direito quando reencarnar.
É um investimento com retorno garantido.
Agora que o império Flordelis & Filhos Ltda., com suas práticas canibais, está fadado a desaparecer, a Igreja de São Queiroz dos Últimos Dias chega para trazer prosperidade aos fieis.
Os incrédulos que fiquem com o exemplo da Primeira Família, aquela de Brasília, devota há décadas.
E uma pergunta: Presidente, por que o Queiroz depositou R$ 89 mil na conta da dona Michelle?
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