Claudia Tajes

Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

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Tem que tocar a vida, entre a ozonioterapia e o cassetete, a gente vai indo

Onde estavam a OMS e todos os órgãos de saúde que não pensaram nisso?

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Santa Catarina ganhou as manchetes do país na semana passada por duas notícias distintas —uma com jeitão de O Sensacionalista, jornal isento de verdade, outra digna de um filme de terror adolescente.

No primeiro caso, o prefeito de Itajaí deu a boa nova para sua região: ozonioterapia retal para todos. Segundo o alcaide, dez aplicações desse tratamento para Covid-19 seriam suficientes para deixar a população tranquila. Claro que isso mais a cânfora, que ele também já vinha receitando junto com vermífugos e outros que tais. Onde estavam a OMS e todos os órgãos de saúde que não pensaram nisso?

O prefeito de Itajaí, do MDB, é médico, colega de legenda e de profissão de Osmar Terra (Plana, segundo os maldosos). Ele mesmo, o ex-ministro que previu pouco mais de 2.000 óbitos como saldo da pandemia no Brasil. Como se sabe, já são mais de 100 mil mortes. E contando.

Ilustração de bolhas azuis com o número 03 dentro. O fundo é composto por manchas de várias cores
Cynthia Bonacossa/Folhapress

A segunda notícia veio de Lages e começou com uma universitária comemorando a aprovação do seu trabalho de conclusão de curso com quatro amigas. Ainda não eram dez da noite quando um PM descontrolado arrombou a porta e irrompeu na sala delas com seu cassetete de estimação.

O PM, de compleição física do tipo armário, primeiro bateu na mesa. Uma das meninas não se intimidou e discutiu com o sujeito, que ameaçava quebrar tudo —e todas. Quando a mulher do PM entrou em cena para tirar o celular de uma das garotas, a pancadaria comeu. O policial bateu no rosto, nos braços, nas costas, nas pernas e no direito das meninas, que estavam dentro da própria casa e, ao que consta, não incomodaram outros vizinhos. Talvez porque eles não tivessem um cassetete, vai saber.

A PM de Santa Catarina alegou que o policial, por ser do grupo de risco da Covid-19, estava afastado de suas funções, o que pode influir na punição que ele vai ter. É provável que grave um vídeo dizendo que, desde o acontecido, não consegue dormir, e que se arrepende de tudo —embora as meninas sejam isso, isso e isso. Vídeos de retratação com acusações às vítimas estão muito na moda, atualmente.

Foi em Santa Catarina, mas poderia ser em qualquer lugar. Tanto a violência quanto a ozonioterapia retal, agora que o general da Saúde recebeu defensores da terapia em seu gabinete. Como diz um conhecido estadista e filósofo: tem que tocar a vida.

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