Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi

Em referendo, Equador deve tirar Correa, o 'seu Lula', do páreo

Referendo convocado por Lenín Moreno proibirá uma segunda reeleição

O ex-presidente do Equador Rafael Correa faz campanha pelo 'Não' no referendo em Quito
O ex-presidente do Equador Rafael Correa faz campanha pelo 'Não' no referendo em Quito - Daniel Tapia/Reuters
 

Se as pesquisas estiverem certas, o Equador eliminará neste domingo (4) qualquer possibilidade de que volte ao poder Rafael Correa, que foi presidente por dez anos, até 2017.

Referendo convocado por Lenín Moreno, seu sucessor, ex-aliado político incondicional e agora maior inimigo, proibirá uma segunda reeleição, mesmo que não consecutiva.

É mais ou menos o que ocorre nos Estados Unidos: presidente que cumpre dois mandatos, como Barack Obama, por exemplo, fica definitivamente fora do jogo.

Correa cumpriu não dois, mas três mandatos, e usou a maioria que tinha à época no Parlamento para aprovar emenda constitucional que previa reeleições indefinidas (como o fez Hugo Chávez, na Venezuela).

Agora, Lenín Moreno incluiu, nas sete perguntas do referendo, a revogação desse dispositivo. Pesquisa do Cedatos, braço equatoriano do Gallup, informa que 70,6% dos eleitores votarão a favor da revogação, o que, se confirmado, impedirá Correa de se candidatar à sucessão de Moreno em 2021, como pretendia.

Correa foi um dos muitos nomes da chamada "onda rosa" que subiu ao poder no início do século na América do Sul. Foi companheiro, portanto, de Lula, do argentino Néstor Kirchner (e, em seguida, de sua mulher Cristina), do boliviano Evo Morales e do venezuelano Hugo Chávez (sucedido por Nicolás Maduro, da mesma tribo ideológica).

Há pelo menos duas coincidências entre as gestões do grupo: uma economia que se beneficiou dos altos preços das commodities que seus países produzem e exportam e programas sociais que melhoraram a situação dos mais pobres.

No Equador, especificamente, a porcentagem da população em situação de pobreza passou de 49% em 2006, antes da posse de Correa, para 27,3% em 2014, segundo a Cepal (braço da ONU para a economia de América Latina e Caribe).

O fim do boom das commodities acabou com a bonança e abalou a popularidade do presidente, que nem sequer conseguiu impor o seu candidato à sucessão, Jorge Glas. Lenín Moreno foi o preferido pelas bases do partido, e Glas terminou apenas como vice-presidente.

Contribuíram para o desprestígio de Correa as suspeitas de corrupção —que, aliás, é o tema de uma das sete perguntas do plebiscito. Os equatorianos serão consultados sobre querer ou não a inabilitação política e a perda de bens pelos funcionários corruptos (pesquisa do Cedatos dá 83,9% a favor dessas punições).

Foi principalmente a questão da corrupção que levou ao rompimento total entre Correa e seu sucessor. O novo presidente deixou vazar que houvera muita corrupção no governo anterior e acabou por afastar das funções o vice-presidente Glas, hoje preso, acusado de se beneficiar do esquema da Odebrecht, ativa no Equador como no Brasil de Lula.

Lenín Moreno tomou até o partido que Correa criara (Aliança País), o que obrigou o ex-presidente a lançar um novo grupo (o Movimento da Revolução Cidadã, como Correa batizara o seu período no poder).

Como a derrota no plebiscito parece certa, o tamanho dela é que dirá se a "Revolução Cidadã" ainda terá algum futuro ou se morre com a proibição de uma nova candidatura de Correa.

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