Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi

Esperança, a fugidia palavra-chave de 2018

Reintroduzir a esperança em um eleitorado que anda de cabeça baixa não será fácil

Está na Folha desta segunda-feira (26) a chave para ganhar a eleição de 2018 (não apenas no Brasil, mas também no México e na Colômbia, os outros dois grandes países em que haverá pleito presidencial).

É a frase da economista Ngaire Woods, reitora da Escola de Governo Blavatnik, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, em entrevista aos sempre excelentes Mario Cesar Carvalho e Érica Fraga:

“Nós precisamos de um novo modelo econômico que ofereça esperança às pessoas".

A chave é “esperança". Em um mundo em que abunda o desencanto e a desesperança, aquele que conseguir oferecer esperança ao eleitor ganhará a eleição.

O imenso problema daí decorrente é simples: ninguém no mundo inteiro desenhou um "novo modelo econômico", como pede a professora Woods. Nem está à vista, no multifacético supermercado de candidatos oferecidos até agora, alguém que seja visto como proponente de esperança.

Ngaire Woods durante o Fórum Econômico Mundial em São Paulo
Ngaire Woods durante o Fórum Econômico Mundial em São Paulo - Adriano Vizoni/Folhapress

Vale lembrar que, muitos anos atrás, um dom Quixote chamado Oded Grajew inventou o Fórum Social Mundial, como contraponto ao Fórum Econômico Mundial, que era —e ainda é— um concentrado do modelo econômico vigente, modelo que levou à desesperança apontada pela economista de Oxford.

O FSM cunhou um bordão sedutor: “Um outro mundo é possível". Dezessete anos depois da primeira edição (Porto Alegre, 2001), não conseguiu desenhar como, exatamente, seria esse outro mundo. Tanto não conseguiu que Ngaire Woods repete o bordão agora, sem que ela própria defina como seria o tal “novo modelo econômico".

Vale lembrar igualmente que o governo do PT que assumiu em 2003 parecia a princípio ser o veículo do “outro mundo possível", tanto que Oded Grajew assumiu o cargo de assessor especial de Luiz Inácio Lula da Silva.

Não ficou muito tempo. Pouco depois que decidiu sair, coincidimos no aeroporto de Paris e ele explicou assim a sua saída: em Brasília, o pessoal só pensa no poder, em ficar no poder. Ninguém pensa na sociedade.

De fato, os governos do PT podem ter sido tudo o que se quiser, contra ou a favor, mas só um fanático incorrigível diria que mudou o modelo econômico herdado.

Imagino que um dos pontos essenciais para começar a mudar o modelo seria uma reforma tributária que tornasse o sistema mais justo e mais favorável ao progresso econômico e social. Pois bem, na campanha de 1994, a Folha fez aquelas clássicas entrevistas pingue-pongue com os dois candidatos principais, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Coincidiram em apontar a reforma tributária como primeira prioridade.

Anos depois, já no fim do segundo mandato de FHC, lembrei a ele daquela entrevista e perguntei porque não fizera a reforma que considerava prioritária.

Respondeu: “Porque é difícil".

Se é difícil fazer uma reforma tributária que está longe de ser uma mudança de modelo, imagine reintroduzir a esperança no horizonte de um eleitorado que anda majoritariamente de cabeça baixa.

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