Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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O essencial para a Venezuela é 'desconvidar' Maduro do poder

Polêmica sobre convite a ditador para a posse de Bolsonaro só serviu para desviar a atenção

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O ditador venezuelano Nicolás Maduro discursa em Havana, Cuba - Yamil Lage - 14.dez.2018/AFP

A minipolêmica sobre o convite/desconvite a Nicolás Maduro não passou do que editorial da Folha chamou de futilidade. Só serviu para distrair a atenção do essencial: como “desconvidar” Maduro do poder, única solução para começar a estancar um desastre político, humanitário e socioeconômico sem paralelos.

Para quem já esqueceu, um breve resumo do desastre, contido em recente relatório do Crisis Group, uma valiosa ONG de estudo de crises, como o nome indica, e de proposição de soluções para elas:

“Maduro comandou um colapso econômico sem precedentes, que levou o Produto Interno Bruto venezuelano a encolher cerca de 50% e forçou um décimo da população a fugir do país. Ante crescentes críticas à deriva autoritária do seu governo, Maduro tirou poderes das instituições democráticas do país, notadamente da Assembleia Nacional, prendeu e levou ao exílio políticos opositores e barrou seus partidos das eleições. Para substituir a Assembleia Nacional [de maioria opositora, conquistada em eleição legítima], instalou uma Assembleia Nacional Constituinte, composta exclusivamente de apoiadores do governo, com poderes para passar por cima de todas as outras instituições”.

Nada disso é novidade. O que é novo no cenário venezuelano é que, no dia 10 de janeiro, Maduro inaugura um novo período presidencial, fruto de uma eleição considerada fraudulenta por quase todo o mundo, menos por Rússia e China, países de milenária tradição democrática (#sqn), e pelos hidrófobos do PT.

Se o presidente é fruto de fraude, o que devem fazer os países que assim o consideram? É o que vai discutir, no dia 4, o chamado Grupo de Lima, formado por 17 nações americanas, entre as quais as principais (Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, México e Peru).

A única coisa que se pode adiantar com alguma certeza é que será descartada uma intervenção militar. Se não é aceita nem por Jair Bolsonaro, em tese o mais agressivo dos presidentes do Grupo de Lima, a proposta não tem chances de prosperar.

O presidente da Colômbia, Iván Duque, e o chanceler peruano, Néstor Bardales, já sugeriram que o grupo todo rompa relações com Caracas. Tem lógica: se consideram o governo Maduro uma fraude, não há como manter relações normais com ele.

Mas parece muito mais uma maneira de acalmar consciências dos líderes dos países vizinhos, eventualmente incomodados pelo fato de que a comunidade internacional e a latino-americana foi impotente (ou incompetente) para evitar a destruição de um país.

Evidenciaria, é claro, o isolamento da ditadura, mas todo o mundo, inclusive o ditador e sua corte, sabem que o regime está isolado.

O mais prometedor passo a dar está contido no conjunto de sugestões do Crisis Group para atacar o caos venezuelano: “Tentar engajar os principais aliados do governo Maduro, particularmente a China, em um esforço de ação concertada para parar o rápido declínio da Venezuela”.

A China é de fato a chave dessa história, por ser o único país com bala na agulha para respaldar um regime necrosado. A pergunta seguinte, óbvia, é esta: Bolsonaro seria capaz de suficiente pragmatismo para superar suas restrições à China e embarcar em um esforço comum com Pequim?

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