Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi

Pausa para o café e para a poesia

A alternativa é sufocarmos em um mar de ódio

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Fui dormir na quinta-feira (14) ainda sob o impacto do belo texto de Alexa Salomão nesta Folha (edição online). Terminava assim:

“Podemos iniciar muitas discussões a partir do que ocorreu na Raul Brasil. Falar sobre segurança nas escolas, sobre o impacto dos videogames na formação de crianças, sobre a ascensão de um obscuro anarquismo entre os jovens. Mas se não enfrentarmos e interrompermos a ode à violência que se alastra em nossa cultura, tudo será em vão".

Acordo na sexta-feira (15) com a notícia do massacre em uma mesquita na Nova Zelândia. Quarenta e nove mortos.

Parece, cara Alexa, que a “ode à violência” é entoada de um extremo a outro do mundo, em lugares insuspeitados. Duas cidades pequenas, Suzano e Christchurch, duas cidades do interior, um território que a sabedoria convencional diria estar livre dessa sinistra canção.

Uma escola e duas mesquitas, ainda por cima em uma cidade que leva o nome de Cristo, sinônimo de paz e de amor.

 

O que você vai escrever a respeito? Achei melhor fugir. Peço licença ao leitor para fazer uma pausa para um café e um poema – e convidá-lo a participar.

Acontece que na quinta-feira (21) é o Dia Mundial da Poesia. Uma rede de cafeterias, a austríaca Julius Meinl, teve a ideia de comemorar a data com o projeto “Pague com um poema".

Traduzindo: a Julius Meinl oferece café (ou chá) de graça para todos os que se apresentarem nas lojas participantes e se dispuserem a cometer um poema. Nas 250 lojas da Croácia, pode ser também uma canção ou um simples pensamento.

A propaganda na página oficial da cafeteria sugere que o freguês, ao se instalar a uma mesa, deixe de lado o celular e elabore um poema.

Uma pena que o Brasil não esteja entre os 70 países em que opera a Julius Meinl, que diz atender 40 mil consumidores todos os dias.

Ainda dá tempo, no entanto, para que alguma rede brasileira (ou estrangeira instalada no Brasil) copie a iniciativa. Não vai ressuscitar os mortos de Suzano ou de Christchurch, claro, mas pelo menos oferece instantes em que a música da morte cede espaço ao lirismo.

Ah, por falar em morte e lirismo, aproveito para contar outra história do gênero, captada em El País da Espanha, em meio ao necrológio do jornalista esportivo Eduar­do Rodrigálvarez, que cobria o Athletic de Bilbao.

Quando o câncer de pulmão levou o jornalista ao estado terminal, ele se internou no hospital de Santa Marina, no monte Artxanda de Bilbao. É uma instituição de cuidados paliativos. Pois bem, é a esse hospital que aportavam, décadas atrás, pombos-correio lançados no estádio do Athletic para anunciar aos enfermos que o time da casa fizera um gol.

Uma ode à alegria em raro contraponto à ode à violência que ameaça nos sufocar.

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