Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi

Uivar para Maduro não funciona

O ditador continua destruindo a Venezuela

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De todos os fatos e/ou lendas referentes aos lobos, há a ideia de que eles uivam para a Lua. Lenda à parte, há muita gente que trata o uivar do lobo para a Lua como sinônimo de gesto inútil. A Lua, como é óbvio, não muda de cor, não aumenta nem diminui nem responde aos uivos do lobo.

Aplica-se essa ideia ao que estão fazendo os Estados Unidos e o Grupo de Lima, do qual o Brasil é parte, em relação à Venezuela. Adotam sanções, ameaçam até com “todas as opções sobre a mesa”, garantem que haverá consequências se os soldados russos, recém-desembarcados, não saírem e que haverá retaliações terríveis se Juan Guaidó for preso.

É latir para a Lua, leia-se para Nicolás Maduro. O ditador até deveria entender: afinal, ele disse ter recebido seu criador, Hugo Chávez, na forma de um “pajarito”, que lhe deu conselhos. Se conversa com pássaros, pode, em tese, entender a linguagem dos lobos, certo?

Mas não. A Lua Maduro continua impávida, surda, destruindo a Venezuela de uma maneira criminosa. O relatório da Human Rights Watch sobre a crise no sistema de saúde do país, divulgado nesta quinta-feira (3), equivale a descrever uma peste medieval que se abateu sobre o país em pleno século 21.

E Maduro nem aí. Ao contrário: dá um passo de cada vez para eventualmente prender Juan Guaidó, reconhecido por mais de 50 países como presidente interino.

Se for de fato preso, os Estados Unidos e o Grupo de Lima farão o quê? Mais latidos para a Lua? Invadir a Lua?

Seria um desastre, ainda mais que todas as ameaças até agora lançadas fizeram com que a ditadura se preparasse para a guerra: Maduro anunciou nesta quinta-feira (4) que vai promover, ainda neste mês, dia 13 ou 14, um grande evento para “mobilizar em armas” os milicianos. Espera que cheguem a 3 milhões.

Suspeito que seja pura bravata, mas nunca é bom duvidar da insanidade de um déspota acossado.

Mesmo que seja bravata, Maduro conta com a quinta mais poderosa força militar da América Latina, pelos cálculos da Global Fire Power, que mede o poderio militar. São 200 mil tropas, sem contar uma milícia voluntária, forças paramilitares e uma esquadrilha de jatos russos Sukhoi de combate.

E se, mesmo assim, os EUA resolverem morder em vez de apenas uivar? Adam Isacson, do Washington Office on Latin America, organização de direitos humanos, diz que não apenas haveria milhares de mortos no terreno, como requereria dezenas de milhares de tropas americanas para ocupar a Venezuela de modo a estabilizá-la.

O que fazer, então? Raúl Gallegos, consultor de risco político, sugere, em artigo para a Americas Quarterly, usar contra a Venezuela as mesmas técnicas que a polícia utiliza contra o crime organizado.

Afinal, a Venezuela de Maduro é uma gangue, como descreve Gallegos: seus líderes recebem propinas em contratos governamentais, renda de mineração ilegal e do comércio de moedas estrangeiras, praticam extorsão, sequestros, fazem contrabando de gasolina e de alimentos.

Em vez de tentar seduzir os militares para que abandonem Maduro (e seus lucrativos negócios ilegais), uma das técnicas seria infiltrar os diferentes grupos, como se fez para derrubar cartéis da droga.

Ou seja, em vez de uivar para a Lua, seria colocar agentes no lado oculto dela.

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