Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi

Algo se move na Venezuela

Falta definir quem aceita perder e quanto

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Não cabe dúvida de que há algo em movimento na Venezuela. Difícil, quase impossível para outsiders, é saber o que e quem se movimenta e em que direção.

Não baseio minha suposição de que há movimento nas declarações de John Bolton ou de Mike Pompeo.

Bolton disse que três figuras relevantes do círculo íntimo de Nicolás Maduro estavam prontos para apunhalá-lo. Pompeo insinuou que havia até um avião preparado para decolar levando Maduro sabe-se lá para onde.

Não dá para confiar em integrantes de um governo presidido por um mentiroso em série como é Donald Trump. Portanto, pulo essa parte e me apoio em outro tipo de informação de que há, sim, movimento.

Trata-se de artigo para El País de Temir Porras, que foi chefe de gabinete de Maduro de 2007 a 2013 e hoje é professor visitante na Sciences Po parisiense.

Escreveu Porras: "Numerosas lideranças políticas e sociais de tradição chavista, antichavista ou independente, fazemos neste momento esforços dentro e fora da Venezuela para criar espaços de diálogo e entendimento. Coincidimos em que é necessário um processo de retorno ao normal funcionamento de nossas instituições democráticas na base de um acordo nacional inclusivo que garanta a coexistência política de todos."

O que se pode concluir dessas afirmações? Primeiro, que há de fato um pré-diálogo envolvendo governistas e oposicionistas em busca de uma saída. Porras não revela, no entanto, nem quem dialoga com quem nem o calibre real de cada envolvido na conversa.

Segundo, a confissão de alguém que esteve até recentemente no coração do esquema de poder de que as instituições democráticas não estão funcionando.

Nesse artigo, assim como em outras publicações (Le Monde Diplomatique, por exemplo), Porras também critica a política econômica. Mas atribui às sanções americanas algum papel na dimensão da crise.

Será o único chavista a reconhecer, ainda que com matizes, o fracasso da gestão bolivariana?

Um segundo indício de que há movimento aparece na fala da quinta-feira (2) do general Vladimir Padrino López, ministro da Defesa e, como tal, a chave para qualquer ação militar a favor ou contra Maduro.

Disse o general, a certa altura, ao lado do próprio Maduro: "Estão tentando nos comprar".

Quem "estão" fazendo esse movimento de compra, general?

Esses indícios são absolutamente insuficientes para permitir qualquer especulação a respeito do desenlace que pode ocorrer, se é que haverá algum desenlace.

A lógica elementar manda dizer que tem que haver um desenlace, nos termos de resto desenhado pelo vice-presidente brasileiro, o general Hamilton Mourão: ou Juan Guaidó, o líder oposicionista, vai preso ou Nicolás Maduro é deposto.

Parece impossível manter-se indefinidamente uma situação de "impasse daninho", como diz o sociólogo argentino Juan Gabriel Tokatlian, em que há um presidente sem legitimidade (Maduro) mas com força e um presidente com legitimidade mas sem força (Guaidó).

Nesse impasse, é razoável supor que não haverá uma solução do tipo o-vencedor-leva-tudo, afirma Ivan Briscoe, especialista do Crisis Group, cuja especialidade é justamente estudar crises.

Os movimentos em curso sugerem que cada lado estuda o que é aceitável perder.

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