David Wiswell

Escritor, roteirista e comediante americano

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Descrição de chapéu Partido Republicano

Trump mira em Don Corleone e acerta no Coiote

O poderoso chefão encara um final relativamente tranquilo; já o perseguidor do Papa-Léguas vivia caindo de penhascos

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A quarta acusação criminal de Donald Trump, em torno de suas tentativas de reverter as eleições americanas em 2020 no estado da Geórgia, sob a lei Rico (utilizada para processar chefes de máfias), suscita comparações com líderes criminosos como Don Corleone, do filme "O Poderoso Chefão".

Posso afirmar, entretanto, que Trump é intelectualmente mais parecido com Don... ald, o Pato. Muitas das provas autoincriminatórias que deixou parecem indicar que, tal como um personagem de desenho animado, Trump poderia ser facilmente derrotado caso o promotor fosse um buraco desenhado numa parede ou um coelho especialmente inteligente.

O ex-presidente dos EUA, Donald Trump
O ex-presidente dos EUA, Donald Trump - Joe Raedle - 24.ago.2023/Getty Images via AFP

Então, quais são as novas acusações e por que são potencialmente mais perigosas do que as outras 78 enfrentadas pelo ex-presidente e atual bufão dos EUA?

A acusação de 41 crimes acrescenta 13 à coleção pessoal de Trump, que, para ele, são agora como Pokémons. "Fraude eleitoral, EU ESCOLHO VOCÊ!" A primeira acusação vincula Trump a outros 18 réus sob a lei Rico, alegando que eles cometeram coletivamente 161 crimes para subverter resultados eleitorais.

Rico, sigla em inglês para "organização criminosa influenciada pela extorsão", é um termo sofisticado para formação de quadrilha. É um rótulo adequado, já que a denúncia de fraude eleitoral de Trump tem o peso da teoria da Terra plana, da negação do Holocausto ou da ideia absurda de que Trump saiba ler.

As acusações incluem falsificação, coação de autoridades para violação de seus juramentos, tentativa de se passar por autoridades e até roubo de sistemas de votação. As ações de Trump e de aliados fizeram com que as provas parecessem bem robustas. Há um áudio intimando autoridades a "encontrar" os votos que ele precisava para ganhar, declarações falsas à Câmara e ao Senado, depoimentos, vídeos e documentos forjados —na verdade, 12 atos arrolados eram apenas publicações de Trump no Twitter.

Imagine postar um crime ao vivo no Twitter! "Estou invadindo o banco agora hahaha", "acabei de atirar no caixa hahaha", "voltando para o esconderijo secreto e relaxando" —junto à sua geolocalização.

Tudo isso faz com que a melhor defesa de Trump pareça ser a alegação de ignorância, embora seus advogados sejam os únicos a fazer isso diretamente, enquanto Trump o faz indiretamente, ao falar. Que astúcia! Mas se sua defesa se baseia na ideia de que ele acreditava que a eleição foi roubada, apesar de não haver provas, isso não significa que cometer crimes seja legal. Se um banco lhe deve dinheiro, você não pode roubar o caixa! Além disso, tratando-se de acusações estaduais, não federais, se Trump contornar suas 91 acusações e se eleger, ele não conseguiria dar o perdão presidencial a si próprio!

Ser julgado com 18 comparsas aumenta ainda a chance de eles trocarem delações ou provas por penas mais leves. A acusação que menciona outros 30 "conspiradores" não indiciados implica que isso talvez já tenha acontecido. Que pena! É quase como se você não pudesse confiar em alguém que (supostamente) o ajudou e foi cúmplice em 161 atos de conspiração para (supostamente) derrubar o governo!

A toxicidade corrupta e o destino de Trump parecem perfeitamente simbolizados pelo fato de muitos de seus advogados e consultores jurídicos serem agora corréus. No mar de pessoas ao redor dele que lhe diziam que o que estava sendo feito era ilegal, Trump teve que encontrar as mentes jurídicas menos escrupulosas que pudessem ajudar e estimular seu esquema. E agora ele tem que confiar nelas!

No filme, o poderoso chefão morre de infarto brincando com o neto, após escapar da acusação. Mas no desenho animado, o Coiote cai de um penhasco. Apesar do que ele acreditava, não havia chão abaixo dele.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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