Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

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Deborah Bizarria
Descrição de chapéu desmatamento sustentabilidade

A liberdade depende da capacidade de ser sustentável

Não podemos deixar para 'quando der' as decisões mais sustentáveis

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Nesta semana, a ministra alemã da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento, Svenja Schulze, propôs um acordo para enviar mais de R$ 1 bilhão para a criação de um programa brasileiro de conservação das florestas e a mitigação das mudanças climáticas. A medida vem em boa hora: de acordo com o Imazon, em 2022 foram devastados 10.573 km², a maior devastação em 15 anos. É urgente que medidas sejam tomadas para garantir que ganhos imediatos de madeireiros não sejam custeados por toda a sociedade.

Frequentemente, decisões que sacrificam ganhos no futuro em prol do benefício rápido são tomadas pelas pessoas, empresas e governos —não só quando o tema é meio ambiente. Para exemplificar: quando um governo exagera nos gastos por um longo período e, por causa dos altos juros da dívida adquirida, compromete a capacidade de realizar suas funções no futuro, não há sustentabilidade. Em nível individual, se uma pessoa exagera em alimentos ultraprocessados e não faz exercícios, provavelmente ela terá muitas limitações de atividades quando chegar à velhice.

Esse viés de raciocínio se chama desconto hiperbólico, um nome elegante para dizer que seres humanos são extremamente impacientes e querem ter o máximo de felicidade hoje —mesmo que o custo seja alto amanhã. Uma das causas dessa impaciência é, muitas vezes, a dificuldade em visualizar os danos do futuro. Com o meio ambiente não é diferente: mesmo que nos mostrem números catastróficos das perdas financeiras e de vidas humanas e o desconforto de ter que aguentar um mundo vários graus mais quente, é difícil experimentar esse cenário.

No que concerne à pauta da preservação ambiental, apesar dos avanços, estes não têm sido suficientes para evitar as consequências das mudanças climáticas em termos econômicos e de saúde humana. No cotidiano, é comum que as questões ambientais fiquem em segundo plano, como algo menor ou que pode ficar para depois. Mas, ao deixarmos para depois, será necessário lidar com consequências não antecipadas.

Como apontou o economista Eduardo Giannetti no evento de lançamento do livro "Para Entender o Desenvolvimento Sustentável", de José Eli da Veiga: "Se esse problema continua se agravando, nós vamos sacrificar muito da nossa liberdade, porque medidas autoritárias e de cerceamento à liberdade humana se tornarão inevitáveis para conter um problema que escapa do controle". Se os piores cenários se concretizarem porque falhamos em nossas ações, seremos obrigados a adotar medidas cada vez mais drásticas para lidar com a escassez alimentar, remanejamento de cadeias produtivas e novos problemas de saúde, entre outros.

Da mesma forma que uma vida completamente desregrada, hoje, limita as escolhas do indivíduo no futuro, ou que um governo fiscalmente irresponsável tem menos recursos no futuro para fazer boas políticas, assim vai ocorrer se a sociedade escolher continuar poluindo hoje.

Essa noção precisa estar internalizada nas decisões das instituições e dos indivíduos, mas ainda não está. Apesar de ter se mostrado preocupado com a questão ambiental, o presidente Lula anunciou que iria analisar com urgência o financiamento de um gasoduto na Argentina que traria gás natural (um combustível fóssil) —projeto que deve trazer prejuízos ambientais sem trazer benefícios econômicos.

Consumidores não agem de modo muito distinto: Em uma pesquisa da Harvard Business Review, 65% dos consumidores entrevistados disseram que querem comprar produtos ecologicamente corretos; apenas 26% deles o fazem.

Não dá para continuar tratando danos ambientais como meras externalidades, ou seja, como efeitos colaterais de uma decisão econômica sobre outras pessoas. Os danos ambientais precisam ser enxergados como uma redução da liberdade e do bem-estar futuros para todos —inclusive para quem os causa.

Portanto, não podemos deixar para tomar decisões mais sustentáveis somente quando der ou quem sabe daqui a alguns anos. É necessário que a sociedade deseje a sustentabilidade hoje.

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