Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Deborah Bizarria
Descrição de chapéu Eleições 2024

Em 2024, candidatos precisam apresentar boas propostas para a população em situação de rua

Casos no exterior apresentam alternativas para enfrentar desafio da habitação, mas há resistência da sociedade

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Com as eleições de 2024, o debate sobre os temas municipais vai se intensificar. Um dos dramas das grandes cidades é o aumento da população em situação de rua. De acordo com relatório do Ministério dos Direitos Humanos, o CadÚnico registra 236.400 pessoas vivendo em situação de rua, em 64% dos municípios brasileiros.

Não é uma questão trivial de resolver. Diversos fatores contribuem para a situação de rua, como a exclusão econômica, desemprego e déficit habitacional, juntamente com a ruptura de laços familiares e problemas de saúde física e mental. Segundo levantamento do Ipea, problemas familiares ou com companheiros motivaram 47,3% das pessoas em situação de rua a deixarem suas casas. Em comparação, o desemprego foi mencionado por 40,5%; o consumo problemático de álcool e outras drogas, por 30,4%; e a perda de moradia, por 26,1%.

Policiais vistoriam pertences de pessoas em situação de rua, na região central de São Paulo, em local que ficou conhecido como Cracolândia, pela cena de consumo de entorpecentes ao ar livre.
Operação policial na região da Cracolândia, entre as ruas dos Gusmões e Conselheiro Nébias, em São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

Similarmente, 60% das pessoas em situação de rua não residem na cidade de origem. O movimento geral é das periferias em direção aos centros metropolitanos. Dos cerca de 236 mil, 10.586 são estrangeiros. Segundo o estudo do Ipea, 69% das pessoas em situação de rua são negras (51% pardos e 18% pretos), com uma média de idade de 41 anos. Jovens entre 18 e 29 anos representam 15% e pessoas de 50 a 64 anos somam 22%.

Experiências internacionais trazem luz à questão. Para sanar a falta crônica de moradia, o programa "Housing First" da cidade de Newark, em Nova Jersey, oferece habitação simples e permanente para pessoas sem-teto, independentemente de vícios ou emprego. Ao longo do ano, a política alcançou uma redução de 58% no número de desabrigados.

O projeto também visa enfrentar a situação de rua a partir do levantamento de dados em tempo real e do aprimoramento das abordagens nas ruas. Além disso, os agentes públicos melhoraram o acesso e serviços nos abrigos, aprimoraram o acesso a serviços de saúde mental e ofereceram opções de espaço mais flexíveis. A iniciativa também disponibiliza aconselhamento e assistência médica para abordar questões como dependência química e problemas de saúde mental. Por que não simplesmente copiamos esse tipo de modelo?

No Brasil, há dois problemas. O primeiro é que, mesmo quando há vagas em abrigos, muitos sem-teto se recusam a ir por conta de regras arbitrárias, falta de espaço para carrocinhas e animais, instalações precárias e superlotação, além de preocupações com segurança. O segundo é a resistência dos moradores do entorno das moradias temporárias. Nos últimos meses, uma obra foi vandalizada na zona leste de São Paulo e moradores de rua relataram sofrer hostilidade e agressão.

Ou seja, ao mesmo tempo em que os eleitores querem menos pessoas nas ruas, eles são contra as soluções possíveis. Esse paradoxo abre margem para que políticos apresentem remédios mágicos e equivocados como a destruição de pertences de moradores de rua ou mesmo internação compulsória. Seres humanos fragilizados e sem condições de cuidar de si mesmos precisam ser acolhidos. Esse objetivo precisa estar aliado à segurança da população para circular nas vias públicas a qualquer momento do dia.

Vale ficar em alerta contra candidatos que apresentem soluções que não conciliam essas duas coisas. Que venham as eleições em 2024.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.