Drauzio Varella

Médico cancerologista, autor de “Estação Carandiru”.

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Vacinas em spray contra Covid-19 suprem limitação das injetáveis

Tecnologia poderá nos livrar de gripes, resfriados e outros males que tanto desconforto nos trazem

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A China aprovou uma vacina em spray contra a Covid-19. Essa versão inalatória foi desenvolvida pela CanSino Biologics, empresa da cidade de Tianjin. É uma das mais de cem preparações orais ou nasais em desenvolvimento no mundo.

Hoje, todas as vacinas disponíveis no mercado são injetáveis. Elas têm sido capazes de evitar as formas graves da doença, as internações hospitalares e os óbitos. No entanto, não oferecem proteção contra as apresentações mais benignas e não impedem a transmissão interpessoal do coronavírus.

Ao ser injetadas no músculo, essas vacinas estimulam a multiplicação dos linfócitos T —que destroem as células infectadas pelo vírus— e dos linfócitos B —encarregados da produção de anticorpos. Esses dois grupos de glóbulos brancos caem na corrente sanguínea e levam a resposta imunológica para os demais tecidos.

Vemos uma menina chinesa recebendo em suas vias nasais um spray emitido de uma lata segurada por uma mão. A cena é vista de perfil, o enquadramento é bem próximo, um close. O traço é grosso, faz referência a um estilo grafite. O quadro é bem gráfico e todo vermelho.
Ilustração de Líbero para coluna de Drauzio Varella - Líbero

O problema é que eles não conseguem atingir concentrações elevadas nas mucosas nasais e nos pulmões, com a rapidez necessária para impedir a multiplicação viral nesses locais. Em outras palavras, enquanto os linfócitos e os anticorpos migram pela corrente sanguínea do local da injeção para a mucosa nasal e as vias respiratórias, o vírus tem tempo de se multiplicar e causar doença, embora menos grave.

Imunizantes administrados por via inalatória também disparam uma resposta imunológica que se dissemina pelo organismo, mas com a vantagem de estimular diretamente as células de defesa localizadas nas mucosas que revestem as fossas nasais, porta de entrada para o Sars-CoV-2. A prontidão da resposta pode ser decisiva para bloquear a entrada do vírus, proteger a pessoa e impedir a transmissão para os que entrarem em contato com ela.

Há vários estudos em andamento com vacinas que utilizam a via mucosa, administradas como primeira dose ou como dose de reforço para aqueles que já receberam as preparações convencionais.

Algumas são idênticas às injetáveis, outras têm composições diferentes. No caso da vacina em spray aprovada na China, a composição é a mesma da vacina injetável produzida pela mesma companhia, com a diferença de que emprega apenas 20% da dose.

Algumas vacinas em desenvolvimento testam se a forma de comprimidos ou gotas nasais têm a mesma eficácia. São estudos em fase mais inicial.

Das cem vacinas administráveis por via mucosa, cerca de 20 chegaram à fase de ensaios clínicos em seres humanos. Entre elas, quatro —duas na China, uma na Índia e outra no Irã— já chegaram aos estudos fase três, que visam testar a segurança e a eficácia em relação às preparações injetáveis.

Em outubro do ano passado, o Ministério da Saúde do Irã aprovou e distribuiu 5 milhões de doses produzidas no país, pelo Instituto Razi, mas ainda não publicou os resultados dos testes. O mesmo acontece com a versão em spray da Sputnik aprovada na Rússia.

Ensaios clínicos com grande número de participantes ainda levarão de um a dois anos para ser iniciados na Europa e nos Estados Unidos. Em entrevista à Nature, Louise Blair diretora de vacinas e variantes do grupo Aifinity, disse: "Temos muitas vacinas. No momento, os países parecem satisfeitos com a redução significativa do número de hospitalizações. A vacinação por via mucosa não desperta o mesmo senso de urgência que as injetáveis tiveram no início da pandemia".

Os objetivos de qualquer vacina são os de prevenir a infecção de uma pessoa e evitar que ela a transmita para outra. Testes com preparações administradas diretamente nas mucosas nasais, em animais de laboratório, mostram que elas conseguem induzir níveis de imunidade local capaz de protegê-los da infecção pelo coronavírus, com mais eficácia do que as injetáveis.

Além de estimular as células imunologicamente competentes que residem na mucosa nasal, essa geração nova de vacinas inalatórias ou em gotas induz a produção de anticorpos protetores em níveis sanguíneos que nada ficam a dever aos dos imunizantes injetáveis.

Os sprays vacinais poderão revolucionar o campo de vacinologia. As viroses respiratórias infectam centenas de milhões de pessoas pelo mundo. A estratégia de estimular células imunocompetentes e anticorpos nas mucosas, ao botá-las em contato direto com o imunizante, faz todo o sentido. Essa tecnologia poderá nos livrar de gripes, resfriados e outros males que tanto desconforto nos trazem.

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