Apesar do sucesso na Olimpíada do Rio, a seleção olímpica não serviu de trampolim para que um razoável número de seus jogadores alcançasse na sequência a seleção principal para a Copa do Mundo, evento de maior relevo, na distante Rússia, no mês que vem.
Agora, quase dois anos após aquela memorável campanha, que resultou no inédito ouro, arrebatado nos pênaltis na decisão contra a Alemanha, o técnico Tite deu uma suave pincelada olímpica, convocando apenas quatro dos medalhistas (os atacantes Neymar e Gabriel Jesus, o defensor Marquinhos e o meio-campista Renato Augusto). Esses atletas, no entanto, atingiram a consagração há algum tempo, não pela experiência olímpica mas, principalmente, pela vivência no futebol internacional de clubes.
Na seleção do Mundial, paradoxalmente, entre outros, eles correrão atrás do protagonismo com ex-integrantes da delegação do vexame da Copa-2014 (os defensores Thiago Silva e Marcelo, e os meio-campistas Paulinho, William e Fernandinho). Quem se esqueceu do placar (1 a 7) diante dos alemães nas semifinais, em Belo Horizonte?
Neymar, o principal astro do futebol e um dos mais destacados jogadores do mundo na atualidade, foi ao inferno e depois ao céu como participante daqueles momentos distintos, porém marcantes, das seleções nacionais.
Uma contusão o afastou do jogo da goleada sofrida no Mundial. Na Olimpíada anotou o pênalti decisivo do título. Jogador do Paris Saint-Germain, passou os últimos dois meses em recuperação de fratura no pé direito, mas acaba de ser liberado para voltar aos gramados.
Na verdade, a seleção olímpica, que em sua história chegou a contar com a passagem de medalhões como Romário, Bebeto, Ronaldo e muitos outros, nunca foi a menina dos olhos da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que sempre concentrou seus interesses na equipe principal, repleta de patrocínios de grande porte.
O mercado da bola, por sua vez, com suas cobiçadas transações milionárias de jogadores atira luz na ofuscada e arcaica organização do futebol brasileiro. Uma dádiva para o time olímpico, celeiro de atletas com idade limite de até 23 anos e apenas três deles acima dessa barreira.
A superação pelo Brasil do desafio do ouro olímpico --antecedido por três medalhas de prata e duas de bronze desde sua estreia em Helsinque-1952-- e o perfil mais avançado da modalidade em outras partes do planeta estão forçando o desenho de um novo cenário.
Talvez por causa disso, a CBF tenha resolvido se mexer. A entidade anunciou recentemente a criação da Comissão para Desenvolvimento das Categorias de Base do Futebol Masculino. Participam técnicos, supervisores, observadores e responsáveis por eventos de base.
A ideia é elaborar competições nacionais sub-15 e promover a adequação dos calendários sub-17 e sub-20. São medidas que visam resultados principalmente a longo prazo. Um primeiro passo cheio de expectativa. Vai vingar? Qualquer avaliação antecipada nesse sentido é arriscada. Caso avance, certamente em futuras Copas serão maiores as chances de a seleção mostrar uma cara um pouco mais olímpica.
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