Os bons números de produção e vendas registrados em agosto não são suficientes para dissipar as dúvidas que pairam sobre a indústria automotiva. A melhora no fornecimento de componentes e o interesse dos consumidores esbarram em juros altos e crédito restrito.
Desejo há: segundo levantamento feito pelo Webmotors Autosights, 83% dos consumidores que passaram pelo portal de classificados pretendem comprar um carro –ou trocar o antigo por outro, mais novo– até o fim deste ano.
A pesquisa, que teve 2.000 entrevistados, mostra que os SUVs com motor flex, sejam usados ou zero-quilômetro, são os sonhos de consumo, com 41% da preferência.
O problema aparece na hora de revelar a forma de pagamento: 60% dos ouvidos pretendem recorrer ao financiamento. Com a taxa básica de juros beirando os 14%, o cenário não é dos melhores para esse tipo de negócio.
Nesta sexta (9), o presidente da Anfavea, Márcio Lima Leite, disse que cerca de 70% dos carros vendidos em agosto foram pagos à vista. É um fenômeno raro, que ocorre pelo encarecimento do crédito –ou pela falta dele.
Além disso, 52% dos licenciamentos foram por meio de venda direta. Os principais clientes, portanto, foram empresas como as locadoras. No varejo, os índices de inadimplência seguem crescendo mês a mês, de forma lenta e constante.
Para o consumidor pessoa física, um dos reflexos dessa movimentação aparece no preço dos carros usados anunciados. Modelos mais caros começam a aparecer com valores abaixo de tabelas como Fipe e KBB Brasil. Isso não significa que estejam baratos, mas, sim, que há uma correção das distorções.
Com a falta de componentes e, consequentemente, de automóveis novos para pronta entrega, os valores de modelos seminovos dispararam. As tabelas de referência ficaram defasadas e, ao longo de 2021 e 2022, foram sendo reajustadas. Agora começa a ocorrer o movimento inverso, com queda gradativa nos valores praticados no mercado.
Entre os zero-quilômetro, a volta das promoções com parcelamento "sem juros" em poucos meses e prazos maiores de carência mostra que há preocupação com estoques. O objetivo é atrair consumidores que têm bom perfil de crédito, mas que fazem as contas e não se animam a trocar de carro agora.
Todos esses fatores revelam que há um processo de readequação do mercado em curso, cuja duração ainda é difícil de estimar. Mas a oferta de carros continua a subir, com lançamentos importantes a caminho. O próximo será o Fiat Fastback, cujos preços e versões serão revelados na quarta (14).
É exatamente o perfil de carro mais desejado, segundo o estudo do Webmotors: SUV e flex. Tende a fazer sucesso, mas isso vai depender do quanto de crédito estará disponível no mercado, e de quanto os consumidores terão condições de pagar.
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