Eduardo Sodré

Jornalista especializado no setor automotivo.

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Recorde de venda de carros completa 10 anos e segue distante de ser batido

Em agosto de 2012, 420 mil unidades foram comercializadas no Brasil; VW Gol era líder

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Há 10 anos, o setor automotivo nacional atingia seu ápice de vendas. As 420 mil unidades emplacadas em agosto de 2012 são um recorde que parece impossível de ser batido.

Em média, 17,6 mil veículos leves e pesados foram comercializados por dia útil naquele período, segundo a Fenabrave (associação dos distribuidores). No mês atual, esse número está em 7.795 licenciamentos por dia.

O mercado interno acumulava nove anos seguidos de alta em 2012. Entre os 10 modelos mais vendidos, apenas a picape Fiat Strada não oferecia opção com motor 1.0. Era o domínio absoluto dos automóveis populares.

Volkswagen Gol foi o carro mais vendido em agosto de 2012 - Ivan Ribeiro - 7.jul.2012/Folhapress

Líder de mercado na época, o Volkswagen Gol registrou 32.629 emplacamentos em agosto de 2012. O carro voltou ao topo em julho deste ano, mas com um volume modesto: 11.925 unidades foram comercializadas no mês passado.

Há 10 anos, o modelo acabara de ser renovado. A versão 1.0 quatro portas do compacto VW custava R$ 27.990, segundo tabela de preços divulgada pela montadora na época. De lá para cá, o Volks passou por mudanças mecânicas, mas o desenho atual é praticamente o mesmo. Hoje é vendido por R$ 75.830.

Naquele distante agosto, 10.594 unidades do Gol foram comercializadas por meio de venda direta, o que representa 32,5% do total. Nessa modalidade predominam os negócios feitos por frotistas -como as locadoras, que dominam essa modalidade. É a compra por CNPJ, e não por CPF.

No mês passado, 81,3% dos licenciamentos do hatch foram para pessoas jurídicas. Há algumas explicações para isso, a começar pelos diferentes momentos do mercado.

Há 10 anos, o Brasil vivia o ciclo de medidas para estimular o consumo de automóveis no varejo. Era o vaivém do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).

Um período de redução se encerraria no fim daquele agosto. Contudo, no dia 29, o então ministro da Economia, Guido Mantega, anunciou que o abatimento seria prorrogado até o fim de outubro.

Quando o novo prazo estava prestes a vencer, a presidente Dilma Rousseff anunciou que a medida valeria até o fim de 2012. Mas houve uma nova prorrogação, e mais outras.

Entre reduções maiores e menores da alíquota, o ciclo só terminou no início de 2015. O descontrole das contas públicas não abria mais espaço para benefícios fiscais daquela monta.

A crise já estava instalada no país, e as vendas de carros caíam mês a mês. Houve um esboço de retomada entre 2018 e 2019, mas a estratégia das montadoras já se voltava para a rentabilidade, com carros de maior valor agregado sendo priorizados.

O que parecia ser um ciclo de alta foi interrompido pela pandemia de Covid-19. O mercado mudou, os carros mudaram, as peças faltaram. Hoje a indústria automotiva trabalha abaixo da metade de sua capacidade fabril instalada.

Entre janeiro e agosto de 2012, 2,5 milhões de veículos leves e pesados foram emplacados. Ou seja, cerca de 500 mil unidades a mais do que as previsões mais otimistas para todo o ano de 2022.

Na lista dos 10 carros mais vendidos entre janeiro e julho, apenas um tem preço inicial abaixo de R$ 70 mil. É o Fiat Mobi, que custa a partir de R$ 64,7 mil, segundo a tabela divulgada pela montadora.

O setor do varejo, que respondia por 78,6% das vendas de veículos em agosto de 2012, hoje representa 58% dos licenciamentos. As vendas diretas avançam em um momento de reestruturação das frotas das locadoras. É nesse nicho que está a chance remota de o mercado voltar a registrar um mês com mais de 400 mil unidades comercializadas.

Para isso acontecer, a modalidade de aluguel de longo prazo teria que se tornar mais interessante para o consumidor, da mesma forma como ocorre no mercado americano. Os carros, portanto, não seriam vendidos para os usuários, mas, sim, para as empresas de locação.

Mas uma mudança desse porte no mercado é algo distante, que depende também do surgimento de automóveis mais eficientes e acessíveis para o grande público, que viu os valores dos veículos novos disparar para além da sua capacidade de compra.

É pouco provável, contudo, que os preços de futuros modelos elétricos ou híbridos produzidos no Brasil sejam tão atraentes como os populares de 2012. Aquele agosto está cada vez mais distante.

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