Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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A nova morte do major

Militar alemão homenageado pelo Exército não era nazista

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A Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme) deu a uma de suas salas o nome do major alemão Otto von Westernhagen, assassinado com dez tiros por terroristas do Colina em julho de 1968, cinco meses antes da edição do Ato Institucional nº 5.

Da homenagem resultou uma barulheira. Teria sido festejado um nazista, condecorado por Hitler. Devagar com o andor, por três motivos.

Primeiro porque Westernhagen era um jovem oficial do Exército. Combateu na França e foi ferido na tomada de Berlim, em 1945. Anos depois foi reintegrado à tropa, como capitão. Em 1966 veio para o Brasil, onde cursava a Eceme.

Reprodução de foto do major alemão Otto von Westernhagen, de página de jornal noticiando sua morte e de placa de homenagem
Reprodução de foto do major alemão Otto von Westernhagen, de página de jornal noticiando sua morte e de placa de homenagem - Reprodução

Um alemão que combateu na Segunda Guerra não pode ser automaticamente classificado como nazista. Em 1941, aos 14 anos, o jovem Joseph Ratzinger estava na Juventude Hitlerista e dois anos depois, compulsoriamente, foi para a tropa. Em 2005 tornou-se o papa Bento 16.

O caso de Westernhagen tem um segundo aspecto. Ele foi morto por engano. Os terroristas campanaram e executaram um homem que supunham ser o capitão Gary Prado. Um ano antes, Prado participara da captura de Che Guevara.

Os terroristas sabiam onde ele morava, mas só descobriram que não era o boliviano quando abriram sua pasta e acharam documentos em alemão. Percebido o engano, calaram-se. O crime só foi desvendado anos depois pelo historiador Jacob Gorender.

Westernhagen não era nazista nem boliviano e morreu numa rua da Gávea sem ter nada a ver com o pato. Nada mais natural que homenageá-lo dando o seu nome a uma sala de aula na escola militar onde estudava.

Num terceiro aspecto, a homenagem ao major repara um injusto esquecimento. Um dos integrantes do comando que o matou, o ex-sargento da FAB João Lucas Alves, é nome de rua em São Paulo e no Rio. (Ele foi torturado e morto no DOPS de Belo Horizonte. Na versão da ditadura, suicidou-se).

Em 1968 mataram Westernhagen por engano. Meio século depois, sua memória merece respeito.

Leia a coluna completa aqui.

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