Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Descrição de chapéu Eleições 2022

Lula expôs uma plataforma, à sua maneira

Três momentos resumem três horas de palanque

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Na quarta-feira (19), Lula deu uma entrevista de três horas a jornalistas. Não foi exatamente uma entrevista, mas uma sucessão de pequenos discursos. Afora uma introdução, um deles durou mais de dez minutos.

O jornalista perguntava sobre a amplitude de suas alianças políticas e, no meio da resposta, ele dizia que Jair Bolsonaro não sabe comer camarão. Esse é seu estilo, à vontade no palanque, travado ou parabólico diante de perguntas diretas.

Mesmo assim, Lula foi revelador. Sua primeira frase teve um jeito de bordão, com essência reveladora: ​​é preciso, em primeiro lugar, "colocar o pobre no orçamento e, em segundo lugar, colocar o rico no Imposto de Renda". Num outro momento defendeu a isenção para quem ganha até cinco salários mínimos.

Lula durante entrevista na quarta-feira (19) - @Lula no Facebook

A maioria das perguntas relacionavam-se com a possibilidade de ele vir a ter como companheiro de chapa o ex-governador paulista Geraldo Alckmin e numa das respostas Lula foi revelador. Prevendo um Brasil melhor, reconstruído. A ideia seria essa, se não, "pede a conta e vai embora, deixa a Gleisi (presidente do PT) livre para indicar outro":

"É pra fazer esse país que eu preciso construir uma relação política mais ampla que o PT, e não mais à esquerda, mas ao centro e, se for o caso, até com setores, sabe, de centro-direita.(...) Eu sei a diferença entre falar e fazer".

A entrevista estava no final quando Lula mostrou a nova carta: "Eu não vou fazer com eles o que fizeram comigo." Chamou Sergio Moro de "canalha", mas deixa pra lá.

"Este país precisa de muita solidariedade, muito carinho, muita alegria.(...) Vou fazer uma campanha leve, uma campanha simpática. (...) Não vou ficar respondendo mentira do Bolsonaro."

Há algo de "Lulinha, paz e amor" na promessa. A ver.

Lula seguiu a velha receita: deu xeque-mate nos petistas que o criticam dizendo-lhes que podem procurar outra liderança. Como desde a fundação do partido ela não apareceu, nem ele ajudou para que ela aparecesse, a carta é e será Lula.

Palanque e debate

Lula saiu da entrevista para um almoço com os jornalistas e nele criticou o modelo dos debates entre candidatos: "não funciona".

Sua restrição está no limite de tempo: um minuto para a pergunta, dois para a resposta, outros dois para a réplica e para a tréplica.

Pode ser pouco, mas não há modelo que possa transformar debate em palanque.
Convergência

Lula e Geraldo Alckmin têm a mesma opinião a respeito daqueles que não concordam com a possibilidade de uma aliança entre os dois: são românticos.

Fala Rui Falcão

Rui Falcão, ex-presidente do PT, é um veterano militante do partido e no período em que os companheiros estiveram no governo federal não se lambuzou (expressão do senador Jacques Wagner, do PT da Bahia).

Numa entrevista ao repórter Ranier Bragon, ele criticou a presença de Geraldo Alckmin na chapa de Lula, dizendo o seguinte:

"Primeiro porque temos um programa de reconstrução e transformação do país, como a Fundação Perseu Abramo vem trabalhando.

Segundo, o Alckmin é a contradição a tudo isso que fizemos e pretendemos fazer.

Terceiro, dá uma sinalização muito negativa para uma campanha que tem que ser aguerrida, mobilizada e com a construção de comitês de defesa da eleição do Lula que permaneçam depois como comitês de apoio do programa de transformação."

Combater a aliança com Alckmin é uma coisa, defender "comitês de apoio do programa de transformação" é bem outra.

Briga na direita

Pode-se dizer de tudo contra a esquerda, mas as brigas internas do PT se parecem com discussões de lordes, se comparadas aos bate-bocas dos bolsonaristas.

Registre-se que Abraham Weintraub, alvo e personagem dos últimos arrufos, foi considerado um profissional adequado para o ministério da Educação. Não o estão tratando como tal.

Arrogância

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