Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Planos de saúde se julgam invulneráveis em modelo que foi das empreiteiras

Operadoras confundem boas conexões com boa gestão

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Faltando poucos dias para a eleição, ninguém haveria de prestar atenção em outras coisas. Pois a Agência Nacional de Saúde Suplementar, a xerife das operadoras, liberou a movimentação pelas empresas de R$ 12 bilhões das provisões destinadas a garantir a solidez do mercado.

Assim como as companhias de seguros, as operadoras de saúde são obrigadas a manter uma provisão para proteger a clientela. Os ativos garantidores desse mercado vão a R$ 33 bilhões. O mimo justificou-se porque no primeiro semestre deste ano as operadoras tiveram um prejuízo de R$ 691,6 milhões.

Estetoscópio em cima de uma guia de plano de saúde
Planos de saúde no Brasil - -Agência Brasil

Visto assim, nada mais natural: há um mercado, ocorre um imprevisto e sacam-se recursos das provisões destinadas a protegê-lo. Imprevisto? Entre 2019 e 2021 as operadoras de saúde lucraram R$ 32,7 bilhões. Quando uma empresa dá lucro, distribui dividendos. Quando dá prejuízo, pode ir aos acionistas.

Proteger o mercado? O prejuízo de 2022 não foi linear. As seguradoras lucraram R$ 944 milhões no setor de saúde. Ganha um fim de semana num garimpo ilegal quem souber como um setor precisa de gambiarra porque teve um prejuízo de R$ 691,6 milhões se um de seus segmentos teve um lucro de R$ 944 milhões.

Não é o conjunto das operadoras que passa por um mau momento. São empresas e modos de gestão triunfalistas ou temerários. No mundo das operadoras de saúde privada existem diversos tipos de companhias. Algumas são verticalizadas, outras são cooperativas ou mesmo seguradoras. Como as quitandas, todas dependem de gestão.

Afrouxar as normas de acesso às provisões que garantem a solidez das operadoras é um estímulo à má gestão. O grande problema dessas empresas é a absoluta falta de controle dos custos (y de otras cositas más, como salários e bônus).

As novidades tecnológicas abriram a porta do mercado para empulhações. A Agência Nacional de Saúde Suplementar dispõe de quadros e informações suficientes para expor as enganações. O mimo de R$ 12 bilhões é uma girafa, mas, pelas suas conexões, há empresas que cobiçam um jardim zoológico, avançando livremente sobre todos os R$ 33 bilhões das provisões.

Houve um tempo em que os bancos brasileiros faziam o que bem entendiam porque se julgavam protegidos por uma lei, segundo a qual não podiam quebrar. Quebraram quase todos. As operadoras de planos de saúde julgam-se invulneráveis. Confundem boas conexões com boa gestão. Esse foi o modelo das empreiteiras.

História das florestas

Está nas livrarias "Uma História das Florestas Brasileiras", de Zé Pedro de Oliveira Costa. São 308 páginas de uma visita a Pindorama com o olhar do mato. A certa altura Zé Pedro diz:

"O mato é o mato, e a casa do indígena é o mato trabalhado. A casa de pau-a-pique do caboclo, filho de indígenas com portugueses, é a terra e o mato trabalhado. Indígenas e caboclos são parte do mato. Quando o mato acaba, acaba sua cultura."

Zé Pedro é um veterano militante das causas do meio ambiente. Geriu a Estação Ecológica da Jureia, em São Paulo, e ajudou a criar o Sistema Brasileiro de Reservas da Biosfera, que abrange 150 milhões de hectares.

Batalhou pelo Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque e pela proteção dos arquipélagos de São Pedro e São Paulo e de Trindade e Martim Vaz. Tudo isso com discrição.

Escrito com elegância e cuidadosamente ilustrado, o livro oferece uma viagem pelas matas brasileiras, da Amazônia, com árvores nascidas antes de Cristo, ao pampa. Dos mangues à mata atlântica, onde as espécies de macacos são 23, 17 correndo o risco de desaparecer.

Vai ao mar e informa que as espécies de tartarugas marinhas são 7 e 5 vivem em águas brasileiras. Salta para a culinária e, com a ajuda de Luiz da Câmara Cascudo, inclui uma receita de macaco cozido com banana.

Isso tudo com a ajuda de Guimarães Rosa, Tom Jobim e Luiz Gonzaga. Na sequência, mostra como a Coroa Portuguesa bem como o Império e a República brasileira tentaram e conseguiram proteger (mal) esse patrimônio.

Enquanto a descrição dos matos é motivo de orgulho, a crônica das tentativas de preservação lista utopias, fracassos e cobiças.

O livro aponta o que deveria funcionar e não funciona. Salvam-se algumas iniciativas bem-sucedidas e a inclusão do respeito ao meio ambiente na agenda nacional, a despeito do surgimento dos agrotrogloditas.

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