Fernando Haddad

Professor universitário, ex-ministro da Educação (governos Lula e Dilma) e ex-prefeito de São Paulo.

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América 2021

Devemos nos preparar desde logo para o pós-Bolsonaro

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Difícil falar de longo prazo em um país onde, durante uma pandemia, faltaram máscaras e faltam seringas. As placas da geopolítica, no entanto, movem-se com tal velocidade que receio não restar muito tempo para que um reposicionamento do Brasil nos reabra alguma perspectiva de futuro.

Dois acordos internacionais recentes deveriam chamar a nossa atenção.

Em 15 de novembro de 2020, foi assinado um tratado que cria a RCEP (Parceria Econômica Regional Abrangente). Por meio desse acordo, os dez países-membros da Asean (Filipinas, Malásia, Indonésia e Tailândia e outros seis) se unem aos cinco países da respectiva Área de Livre Comércio (Japão, Coreia, China, Austrália e Nova Zelândia), formando um bloco que congrega 30% do PIB mundial.

Nesta semana, China e União Europeia selaram o Acordo Abrangente de Investimentos, que facilita o investimento direto recíproco, conquista indiscutível de Angela Merkel às vésperas da posse de Joe Biden. Apesar dos contratempos e desafios, o projeto europeu segue seu curso autônomo, com brexit e tudo.

Na América, as coisas não correm tão bem. Sob a administração Trump, duas medidas mudaram as perspectivas regionais. O USMCA, ou Nafta 2.0, foi uma exigência dos EUA para manter o acordo de livre comércio com México e Canadá, mediante o qual obtiveram vantagens, sobretudo no que concerne a serviços e propriedade intelectual.

Além disso, Trump retirou os EUA das negociações em torno da Parceria Transpacífica, por divergências sobre investimentos e compras governamentais. Doze países banhados pelo Pacífico (entre eles Chile, Peru, Nova Zelândia e Singapura) levaram à frente a iniciativa, agora no âmbito do Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica. Sem os EUA.

Os EUA são, eles próprios, o mais bem-sucedido empreendimento cooperativo inter-estatal da história: 13 colônias que se transformaram em 50 Estados poderosos sob uma Constituição. Mesmo com os democratas, os EUA dificilmente terão olhos para a América Latina como área continental de desenvolvimento econômico.

Bolsonaro, do seu lado, não perde oportunidade de hostilizar nosso principal parceiro regional, a Argentina, e global, a China. E, mesmo tendo aceito praticamente todas as exigências europeias para celebrar o acordo UE-Mercosul, não conseguiu obter o necessário aval dos parlamentos dos países europeus em virtude de seu público compromisso com a destruição ambiental.

Sem rumo e liderança, perderemos mais dois anos. No exterior, Bolsonaro é tema apenas de programas humorísticos. Devemos, porém, nos preparar desde logo para o depois.

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