Fernando Schüler

Professor do Insper e curador do projeto Fronteiras do Pensamento. Foi diretor da Fundação Iberê Camargo.

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Fernando Schüler

Crônica de um país malandro

Novela sindical ilustra o Brasil dos privilégios cujo único antídoto é dar o direito de escolha às pessoas

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Pouca coisa traduz melhor o Brasil malandro do que a novela do imposto sindical

Em 2017, o Congresso extinguiu o imposto, decisão chancelada pelo Supremo Tribunal Federal.

Seu ponto foi claro: pagar o sindicato é uma escolha individual do trabalhador. 

No Brasil malandro, porém, as coisas não são bem assim. Apenas em 2018, 11.699 acordos coletivos recriaram contribuições sindicais compulsórias.

Na prática, foi sendo recriado o imposto que o Congresso Nacional extinguiu, sob a batuta de um ativismo judicial que vai se transformando em regra, no país. 

Os defensores do imposto garantem que ele é vital para sindicatos. Em grandes grupos, dizem, é alto o incentivo para qualquer um agir como caroneiro. O sujeito colhe o benefício dos acordos coletivos, mas recusa sua contribuição. 

O problema é que esta mesma lógica favorece a captura das entidades pela burocracia sindical.

A solução é fincar o pé. Se o Brasil quer deixar de ser o país do cartório e migrar para um modelo aberto e competitivo, será preciso passar pelas dores do parto. 

É evidente que os sindicatos irão penar. Haverá fusões, venda de ativos (em geral inúteis), redução de pessoal e um súbito interesse em gerar resultados para o associado.

Casualmente, tudo que acontece em um mercado competitivo. 

O mesmo se observa no sindicalismo patronal. Alguém acha normal o sujeito ficar 38 anos na presidência de uma confederação nacional? Ou o uso político e partidário das entidades?

Alguém, de livre vontade, pagaria por isso? 

O Brasil normalizou muita coisa esquisita, nos últimos tempos. Caímos em muita conversa.

Sempre me surpreendo com gente boa acreditando que o superfundo eleitoral criado pelos políticos para financiar campanhas era mesmo uma forma de dar equidade às disputas eleitorais. 

Penso nessas coisas, nesse fim de folia, e me dou conta de que é disso que iremos tratar nas decisões que o país tem à frente, agora que o ano inicia de verdade. 

O Brasil malandro é a terra do que costumamos chamar de privilégio. Ele não se define pelo fato de alguém ter mais ou menos dinheiro, mas pelos pedaços de renda e liberdade dos outros que alguns souberam capturar.

Contra isso, só tem um jeito: dar o direito de escolha às pessoas. Nos sindicatos, no financiamento aos partidos, no jeito de aplicar o fundo de garantia, na previdência.

Os temas são muitos. Há muito país malandro à frente para transformar em coisa séria.

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