Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio

As (des)vantagens de ter 40

Acho impossível esconder a idade, principalmente de nós mesmos

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Susto, espanto, olhos arregalados e interjeições “Oh!”, “meu Deus”, “nããão!”. 

Parece cena de um filme de terror, mas são as reações de algumas pessoas quando descobrem que entrei na casa dos “enta”.

“O maior problema dos 40 é o relógio biológico.” Também não vejo problema algum com o meu. Vou ao banheiro regularmente. 

“A gente é ‘ageless’”, uma amiga tentou me confortar. O movimento “ageless” —no português “sem idade”— debate a valorização exagerada que a sociedade impõe à idade das mulheres.

Uma mulher assopra a vela do bolo de 40 anos e isso faz o fogo ser espalhado por diversos personagens
Galvão Bertazzi/Folhapress

Tirando a Glória Maria, cujo RG está guardado na Área 51, no mesmo cofre da fórmula da Coca-Cola, acho uma missão impossível esconder a idade. Principalmente de nós mesmos.

Os sinais dos anos chegam como um gol da Alemanha. Quando a gente pensa que vem um, aparece um monte atrás. Começam com uma fisgada estranha no ciático, uma ressaca um pouco mais forte e um fio de cabelo branco. 

Quando menos esperamos, passamos a gemer para sair do carro e a ressaca se parece mais com febre chikungunya. 

Adquirimos um amplo repertório de doenças terminadas em “ite” e as receitas médicas mais parecem teses de mestrado, de tantas páginas.

Os cabelos brancos também se multiplicam. Tentamos arrancar, mas, como a idade também traz a miopia, acabamos tirando cabelos pretos. Ficamos grisalhos e carecas. 

Por outro lado, aos 40, temos a mesma aparência dos 30 (se a base tiver bastante cobertura), mas com um corte de cabelo melhor, mais liberdade, experiência para lidar com problemas, amizades mais sólidas e, principalmente para nós mulheres, lidando melhor com o corpo e a sexualidade

Com o aumento da longevidade, também temos a chance de mudar de ideia inúmeras vezes. 

Podemos mudar de carreira. Casar, ter filhos, nos divorciar, casar de novo. Ou ficar solteiro, não ter filhos, chamar os amigos de família. 

Ou, quem sabe, mudar de ideia novamente, como eu, que engravidei agora, aos 40. Só não venham me dizer que sou a geração “ageless”.

Aproveitei cada ano da vida e quero que eles sejam lembrados, um a um. Quero fazer parte da geração cheia de idade. Sou a geração “agefullness”.

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