Gabriela Prioli

É mestre em direito penal pela USP e professora na pós-graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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Gabriela Prioli

Sua Excelência, o poliglota

Tanto Alphaville quanto a praia santista devem ficar nos Jardins

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O espaço é curto, me perdoem a falta de lirismo. Nesta semana, alguns ficaram surpresos com o desembargador "poliglota": fala português e várias m*****, desculpem o meu francês.

Não entendi o espanto. Faz tempo que sabemos que a abordagem nos Jardins e na periferia tem que ser diferente, como disse em 2017 o então comandante da Rota, tropa de elite da PM de São Paulo.

Faço questão de elogiar a postura de Cícero, o GCM que teve calma ao lidar com o absurdo, tal qual os policiais militares que, dia desses, foram xingados em Alphaville. Mas tanto Alphaville quanto a praia santista devem ficar nos Jardins. Talvez seja essa a razão pela qual desacatos não são coibidos com um pisão no pescoço, como aconteceu em Parelheiros. Na periferia, o desacato é visto com outros olhos, tem outra cor.

Desembargador Eduardo Siqueira rasga multa por estar sem máscara em praia de Santos (SP)
Desembargador Eduardo Siqueira rasga multa por estar sem máscara em praia de Santos (SP) - Reprodução

O Tribunal de Justiça de São Paulo soltou uma nota dizendo que não compactua com o desrespeito às leis. Fiquei confusa, confesso. O TJ-SP é comumente cobrado por ministros do STJ por descumprir a orientação jurisprudencial dos tribunais superiores, ignorando solenemente o papel constitucional do STJ e do STF.

O exemplo mais óbvio são os casos de tráfico de drogas. Em termos claros: o TJ-SP mantém preso quem deveria estar solto. E não, não estamos falando dos grandes chefes do tráfico. Preso por tráfico no Brasil é preso em flagrante com pouca quantidade de droga. É periferia, não Jardins.

Aliás, ironias da vida, preso por tráfico de drogas é preso por crime que coloca em risco a saúde pública, o mesmo bem jurídico que se pretende tutelar pela exigência do uso de máscaras. Nestes tempos de imposição de isolamento, a oportunista defesa da liberdade virou arma de debate político: muita gente que nunca se importou com a restrição da liberdade do outro reclamou a defesa da sua.

O problema é que, se a sua liberdade vale mais, a força da lei depende do sujeito obrigado. Em outras palavras, "você sabe com quem está falando?".

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