Gustavo Alonso

Doutor em história, é autor de 'Cowboys do Asfalto: Música Sertaneja e Modernização Brasileira' e 'Simonal: Quem Não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga'.

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Com o sertanejo, Goiânia é atual capital da cultura massiva no Brasil

Nomes como Leonardo, Eduardo Costa, Marrone e Gusttavo Lima têm casas, algumas bastante luxuosas, na cidade

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A casa dos sertanejos sempre chamam atenção pelo luxo e frivolidade. Segundo versões divulgadas na imprensa, a casa de Gusttavo Lima, num condomínio de alto luxo de Goiânia, é avaliada em torno de R$ 50 milhões.

O local conta com uma piscina gigante, academia particular, quadras poliesportivas, lago para pesca, heliponto, alguns salões gourmet para receber convidados, salas de jogos e um estúdio musical dedicado ao desenvolvimento dos projetos do cantor.

Mansão do cantor Gusttavo Lima localizada em Goiânia, Goiás
Mansão do cantor Gusttavo Lima localizada em Goiânia, Goiás - Instagram/@gusttavolima

Recentemente, Chitãozinho colocou sua casa em Campinas à venda por R$ 8,9 milhões. A casa de Luan Santana em Alphaville, em Barueri, área nobre de São Paulo, foi comprada no ano retrasado pela bagatela de R$ 18 milhões.

O imóvel tem mais de 2.000 metros quadrados de área construída e impressiona em detalhes, como a existência de uma garagem para 20 carros, cinco suítes gigantes, elevador privativo, spa com sauna, uma superadega subterrânea climatizada, diversos recursos para controle de equipamentos e eletrodomésticos via smartphone e até mesmo um espelho d´água decorativo.

As benesses do dinheiro em exagero faz com que muitos flertem com decorações exageradas e casas todas muito parecidas. Pisos de mármore, paredes muito brancas, sinais de riqueza ostentatórias.

Mas há algo além da frivolidade que é importante considerar —a localização das casas. Embora estejam sempre em condomínios de altíssimo padrão, que são muito parecidos em todo o país, chama atenção o fato de os sertanejos não mais precisarem morar em São Paulo para fazer sucesso.

Como o Rio de Janeiro sempre foi um meio estranho aos sertanejos, sobrou São Paulo, nossa grande cidade do interior. Zezé Di Camargo, por exemplo, migrou para a capital paulista para gravar seus dois discos solo e tentar o sucesso nacional em meados dos anos 1980. O mesmo aconteceu com Leandro e Leonardo. Chitãozinho e Xororó saíram de Astorga no Paraná e se mudaram para Campinas, muito próximo da capital paulista, onde vivem até hoje.

Antes dos anos 2000, era obrigatório aos sertanejos, senão morar, ao menos ter um pouso fixo na capital paulista, sobretudo para o período de gravações. Não havia no século passado formas de gravação baratas e acessíveis como hoje.

Gravar era sinônimo de ir aos centros irradiadores de cultura que eram, necessariamente, Rio e São Paulo. Isso aconteceu com todo artista que queria ser nacionalmente reconhecido. Roberto Carlos migrou da pequena Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo, para o Rio de Janeiro, onde muito batalhou antes da fama.

Caetano Veloso saiu de Santo Amaro, na Bahia, para tentar a vida no Sudeste, assim como Elis Regina, que saiu de Porto Alegre para gravar em São Paulo. Não apenas as gravações aconteciam nas capitais do Sudeste, mas era nesses centros culturais que se planejava a irradiação da cultura. Não é mais assim há algum tempo.

Mas a mudança só foi percebida após com algum tempo. No início da geração universitária dos anos 2000, ainda vigorava o costume de se seduzir pelos polos tradicionais da cultura nacional.

Um caso interessante para se pensar a reviravolta nos esquemas de produção musical e cultural sertanejos aconteceu com Victor e Leo, que migraram para São Paulo para tentar o sucesso no início do milênio. Por causa da internet, conseguiram fazer sucesso inicialmente em Uberlândia, e não em São Paulo, onde trabalhavam, moravam e lutavam pelo reconhecimento.

Com isso, durante a maior parte da carreira de enorme sucesso, Victor e Leo moraram em Uberlândia. A cidade do Triângulo Mineiro está em uma posição privilegiada para um artista sertanejo, que viaja muito pelos interiores e pouco pelo litoral. O mesmo se aplica a Luan Santana, que durante muito tempo morou em Maringá, no Paraná.

Hoje em dia, uma penca de artistas sertanejos mora em Goiânia mesmo, como Leonardo, Eduardo Costa, Marrone, Jorge (da dupla com Mateus), Gusttavo Lima, Humberto e Ronaldo, Matheus e Kauan, Maiara e Maraísa, Guilherme e Santiago, Israel e Rodolfo, João Neto e Frederico, Wanessa Camargo, entre outros.

Há até um conhecido condomínio de luxo em Goiânia, o Residencial Aldeia do Vale, famoso por ser a moradia de conhecidos artistas como Maiara e Maraísa, Leonardo e Zé Felipe, onde várias lives foram gravadas na época da pandemia.

Morar fora dos centros tradicionais do Sudeste é um luxo deste milênio. Mostra que os eixos culturais do país mudaram. As gravações tornaram-se baratas e disponíveis em qualquer cidade média do Brasil.

Tornou-se mais importante estar perto do público e o centro do Brasil é o meio do caminho para todo o país. O sonho da Brasília de Juscelino Kubitschek, o de uma capital interiorizada, tornou-se vitorioso na cultura através da música sertaneja.

Se Brasília é capital política, Goiânia é a principal capital da cultura massiva do século 21. Dos anos 2000 para cá a capital de Goiás, que antes exportava artistas, tornou-se o eixo central para onde muitos sertanejos migram.

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