Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Helio Beltrão
Descrição de chapéu juros inflação

Fed desastroso revigora uma boa ideia de Friedman

Depois de fomentar a inflação, Jerome Powell finalmente acorda e promete vencê-la

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Desde o discurso do presidente do Fed (o banco central americano), Jerome Powell, na sexta-feira (26) em Jackson Hole, os mercados estão em queda. Powell, com muito atraso, acordou e jurou combater a inflação sem cessar, até que volte à meta. Este é o Fed com pior credibilidade desde a desastrosa gestão de Arthur Burns nos anos 1970. Por ter demorado demais, terá que subir os juros com mais intensidade e por período mais prolongado.

O que o Brasil e os países emergentes têm com isso? Potencialmente muito. Sempre que os juros em dólar sobem de forma aguda, algo quebra no mundo, em particular nos países emergentes mais fragilizados.

Em 1994, trabalhando no mercado financeiro, testemunhei as consequências dos juros em alta para o combate à inflação. O Fed subiu os juros de 3% para 6% e detonou uma severa crise no México, a crise "Tequila", que desvalorizou o peso mexicano em mais de 40%. Os juros de curto prazo multiplicaram por sete no México e triplicaram na Argentina. No Brasil, que estreava o Plano Real, a Selic estava acima de 50% ao ano e bateu 85%, pasmem, no auge da Tequila no início de 1995.

O presidente do Fed, Jerome Powell, em discurso após reunião monetária de julho
O presidente do Fed, Jerome Powell, em discurso após reunião monetária de julho, em Washington - Elizabeth Frantz - 27.jul.2022/Reuters

O mecanismo de geração da crise é quase sempre o mesmo. Com a alta dos juros, o dólar tende a ficar mais forte, commodities costumam cair, e o financiamento de emergentes diminui. A moeda deprecia e o serviço da dívida (externa e interna) sobe, comprometendo o crescimento. Em algum ponto, o financiamento externo colapsa e fecha-se a janela de captações externas. O ciclo econômico desmorona e já não há alternativa à alta dos juros. É hora de pagar por períodos anteriores nos quais os bancos centrais jorraram crédito para impulsionar a economia, tabelando os juros de forma artificialmente baixa.
O otimismo da Bolsa americana das últimas semanas se provou precipitado.

O mercado chegou a acreditar que o Fed não ousaria elevar os juros acima de 3% ou 3,5% ao final do processo de ajuste em 2023 ou 2024. Mas agora se espera mais uma alta de 0,75 ponto (a terceira seguida) no mês que vem, superando os 3%.

A recessão ainda não instalou de vez, mas a maioria acredita no "pouso forçado" (hard landing), com atividade econômica em queda em algum momento dos próximos 12 a 18 meses. O próprio Powell admite que será necessário um período substancial de crescimento abaixo da média. A era tóxica de o Fed resgatar todo mundo com injeção monetária está chegando a seu fim —como alertei em junho e novembro do ano passado e em janeiro deste ano.

O Fed multiplicou o dinheiro existente em mais de dez vezes desde 2008 e garantiu que não haveria consequências. Quando a inflação chegou, entrou em negação e alterou as regras da meta. Depois prometeu que a inflação era transitória –lembrem-se do infame discurso de Powell em Jackson Hole no ano passado. Em seguida disse que agiria em algum momento. Só agora é que deixou claro que cumprirá seu papel de controlar a inflação com seriedade. Mas ainda não se desculpou nem pelos enormes erros do passado recente, nem pelos seguidos erros de projeção de cenários.


E o Brasil? Felizmente não estamos fragilizados como em tempos passados. O BC tem US$ 350 bi em reservas, os investimentos estrangeiros diretos superam o déficit em conta corrente (cerca de US$ 60 bi contra US$ 25 bi), e a Selic está acima da inflação há vários meses, uma rara exceção mundial. É uma situação bastante mais vantajosa que Turquia, Chile, Colômbia e Indonésia, frágeis em fluxos internacionais e cobertura de reservas.

Milton Friedman concorda com a Escola Austríaca que bancos centrais fazem mais mal que bem. Em sua palestra ao receber o Nobel em 1976, afirmou com pertinência que os BCs poderiam ser substituídos, com ganhos para todos, por computadores que garantissem 3% de crescimento de base monetária ao ano. Taí uma boa ideia.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.