Helio Mattar

Diretor-presidente do Instituto Akatu, foi secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (1999-2000).

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Descrição de chapéu Consumo Consciente

Quer diminuir o seu impacto ambiental? Compre e venda usados

O sucesso das feiras de produtos de segunda mão se dá também no ambiente digital

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Os chamados flea markets ou “mercados de pulga”, presentes em diversas cidades ao redor do mundo, são a representação mais tradicional do comércio de produtos usados. Suas barracas e araras de objetos sortidos chegam a despertar tanta curiosidade que, em alguns casos, ganham status de atração turística, como é o caso da Portobello Road, em Londres, na Inglaterra, ou o Flohmarkt de Mauerpark, em Berlim, na Alemanha.

Portobello Road, em Londres, que reúne lojas de antiguidades e brechós
Portobello Road, em Londres, que reúne lojas de antiguidades e brechós - Tom Jamieson/The New York Times

O sucesso das feiras de produtos de “segunda mão” se dá também em suas versões digitais, que facilitam a transação entre vendedores e compradores. Essas plataformas virtuais podem não ser tão divertidas como os “mercados de pulga”, mas permitem anunciar e buscar produtos com mais eficiência, visto que é possível obter muito mais informações sobre diferentes produtos e comparar preços com mais rapidez.

Marketplaces digitais, como Trocafone – especializada em celulares, Enjoei – que permite a compra e venda de roupas usadas, Estante Virtual – que reúne sebos de todo o Brasil e que viabiliza inclusive encontrar livros raros, Mercado Livre – que reúne uma enorme variedade de produtos usados, e OLX – o maior site de comércio de usados no Brasil, vem aumentando muito em importância em termos de volume vendido nos últimos anos.

O comércio de usados também está a todo vapor nos grupos do Facebook, que atendem aos mais variados nichos. Só a OLX movimentou R$ 81,9 bilhões de reais no ano passado, um aumento de 18,3% em relação a 2015. Vender ou comprar produtos usados é um bom negócio, pois significa reaver parte do dinheiro gasto com a compra do produto novo, do ponto de vista de quem vende, e pagar um
preço mais baixo do que o de um produto novo, do ponto de vista de quem compra.

O que nem todo mundo percebe é a importância da compra e venda de usados para o meio ambiente, que é submetido a menor impacto negativo em função do prolongamento da vida útil de um produto quando vendido usado, evitando se tornar (tão cedo) um resíduo, a se acumular em aterros, lixões ou, até mesmo poluindo rios ou oceanos, e evitando a compra de um produto novo, que exigiria sua produção a partir de matérias primas virgens, com todos os impactos desse processo sendo evitados.
 

Matérias primas, trabalho, energia e água são sempre necessários para fazer um produto. Optar por um usado significa evitar todo o processo de produção de um novo. A produção de uma camiseta de algodão, por exemplo, pode consumir até 2.700 litros de água. Esse gasto de água nas produções de algodão da enorme quantidade de camisetas usadas no mundo todo é tão grande que alguns especialistas o relacionam à secagem do mar Aral, na Ásia.

Outro exemplo é a produção de uma calça jeans que requer, em média, 10.850 litros de água (cálculo da ONG Water Footprint Network), quantidade suficiente para suprir o consumo residencial de água (lavar louças, tomar banho, beber, cozinhar etc) de uma pessoa por mais de três meses!

Considerando que a compra de um produto usado significa evitar a produção de um novo, as emissões de carbono evitadas no comércio feito na plataforma OLX de compra e venda de usados, chegaram a 5,7 milhões de toneladas de CO2 em 2017, só no Brasil. 

Isso equivale às emissões de 22 milhões de sofá nas etapas de extração de recursos e de produção, segundo o relatório Second Hand Effect encomendado pela empresa, publicado este ano. Evitar emissões desses gases é essencial para o combate ao aquecimento global e às mudanças climáticas, que
já vêm reduzindo o bem-estar das pessoas e da sociedade.

Conscientes dos impactos da produção de todo e qualquer produto, todos nós devemos procurar consumir de forma diferente, comprando apenas o que é realmente necessário, buscando atender às nossas necessidades com o menor impacto negativo possível.

Comprar produtos usados é uma forma de prolongar ao máximo a vida útil dos produtos e assim contribuir para a redução de tais impactos. Esse olhar é fundamental ao analisar todos os
produtos que cada um de nós consome: roupas, brinquedos, eletrônicos, artigos para a casa, livros etc.

Cuide bem deles, para que durem o máximo tempo possível. Faça a destinação correta quando eles não forem mais úteis para você – se estiverem em bom estado, procure vendê-los ou doá-los a quem possa aproveitá-los por mais algum tempo. Vasculhe gavetas e armários para que nada fique parado, sem uso. Lembre-se de que aquilo que não serve para você pode ser útil para outra pessoa.

Mais que isso, prefira comprar de empresas que façam produtos mais duráveis, além de influenciar as empresas para que os produtos por elas produzidos possam ser facilmente consertados. Se o custo de manutenção de um eletrodoméstico, por exemplo, é maior do que o preço de um produto novo, isso indica que, possivelmente, o produto não é feito para durar ou não é projetado para ser consertado, mas sim para ser trocado por um novo de tempo em tempo.

De outra forma, a mera troca de uma ou outra peça no eletrodoméstico, considerado o preço da peça e a mão de obra do conserto, não deveria custar mais do que o próprio produto. Idealmente, os governos 
deveriam buscar induzir a existência de mecanismos de especificação da qualidade dos produtos ou de extensão de garantia ou de taxação de produtos de obsolescência muito rápida e preços muito baixos de modo a evitar que o consumidor seja forçado a descartar produtos com pouto tempo de uso e que, com poucas alterações, estariam em condições de operar por mais tempo. Isso reduziria os impactos negativos sobre o meio ambiente e também sobre o bolso do consumidor.

De outro lado, é preciso uma mudança de cultura na direção de valorização do produto usado, de forma que ele deixe de ser visto como uma alternativa “pobre”, inferior à versão nova. Um caso típico é o dos celulares que, recondicionados, podem continuar a ser usados por muito tempo evitando a retirada, transporte e processamento de centenas de quilos de matéria prima virgem para a produção de um novo, com todos os impactos ambientais negativos associados a esse processo.

Assim como é natural que você queira vender ou comprar um carro usado, deveria se tornar natural a compra e venda de itens usados como roupas, eletroeletrônicos, eletrodomésticos e brinquedos usados, entre outros produtos, seja porque traz menos impactos negativos ambientais, seja porque fará bem ao bolso do consumidor e à saúde da sociedade. Todos nós sofremos os impactos da obsolescência super rápida dos produtos. Além disso, esquecemos o quanto de trabalho cada um de nós coloca para acumular
o dinheiro necessário à compra de um bem.

É charmoso garimpar lindas peças em um antiquário. As pessoas que ainda não o fizeram ficarão surpresas ao procurar roupas interessantes em brechós ou uma enorme variedade de produtos usados (às vezes quase novos) em lojas físicas ou em sites de venda. Faça a experiência! E, se gostar, conte aos seus amigos e familiares para que eles se motivem a fazer também.

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