Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Hélio Schwartsman
Descrição de chapéu

Por favor, lavem as mãos

Segundo estudo, 88% dos celulares em salas cirúrgicas estavam colonizados por bactérias

Pesquisa realizada por cirurgião da Universidade Federal de Pernambuco constatou bactérias em 44 celulares de profissionais que atuam em sala de cirurgia
Pesquisa realizada por cirurgião da Universidade Federal de Pernambuco constatou bactérias em 44 celulares de profissionais que atuam em sala de cirurgia - Michaela Rehle/Reuters

A Folha publicou na segunda (19/3) reportagem sobre estudo de Cristiano Berardo, da UFPE, que mostra que 88% dos aparelhos celulares que entraram em salas cirúrgicas de um hospital do Recife estavam contaminados com bactérias potencialmente patogênicas.

E celulares, vale lembrar, são apenas um dos itens por meio dos quais profissionais de saúde levam micróbios de um lado para o outro. O principal deles é o estetoscópio, mas também desempenham papel relevante jalecos, canetas, óculos, teclados e mouses. Menos lembradas, mas não menos perigosas, são as gravatas. Um estudo inglês de 2007 recomendou que médicos deixassem de usá-las. Ao contrário de jalecos, elas quase nunca são lavadas.

Objetos pertencentes às equipes, porém, raramente entram em contato direto com o paciente (a exceção é o esteto). Eles são um elo na cadeia de contaminação porque os profissionais os tocam com suas mãos e em seguida manipulam os doentes ou o material que será utilizado em procedimentos. O uso de luvas é importantíssimo, mas, ao contrário do que muitos (médicos inclusive) pensam, não constitui uma barreira totalmente eficaz contra a contaminação.

Isso nos leva à lavagem das mãos. Quando bem-feita, ela pode, em tese, evitar as infecções. Talvez seja irrealista esperar 100% de adesão às diretrizes para a boa higienização, mas —e esse é um dado assustador— a taxa de “compliance” raramente excede os 50% mesmo em hospitais de países desenvolvidos. Campanhas melhoram um pouco os índices, mas o seu efeito tende a ser transitório.

É impressionante que, 150 anos depois de o húngaro Ignaz Semmelweis (1818-65) ter demonstrado a importância de os médicos desinfetarem as mãos, grande parte dos profissionais da área não tenha incorporado a prática a suas rotinas. É a prova de que nossos vieses são mais fortes que a informação —e essa certamente não é uma boa notícia.
 

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.