O racismo é moralmente condenável porque atribui a um indivíduo particular características tidas como representativas da categoria a que ele pertence. A mente do racista tira conclusões sobre pessoas antes mesmo de conhecê-las e interagir com elas. E, se os estereótipos relativos ao grupo de que o sujeito faz parte são negativos, ele já dá a largada em grande desvantagem —o que é profundamente injusto.
Diante disso, a atitude antirracista por excelência é sustentar que as pessoas, independentemente das marcas fenotípicas que carreguem, devem ser tratadas de forma igualitária e só podem ser julgadas pelos vícios ou virtudes que apresentem enquanto indivíduos, não pelas características atribuídas ao seu grupo.
É essa atitude antirracista por excelência que setores do movimento negro não tiveram com a artista Fabiana Cozza, que havia sido escalada para interpretar a cantora e compositora carioca Ivone Lara (1922-2018) num musical que deverá estrear em setembro no Rio de Janeiro. No entender desses militantes, Cozza, filha de pai negro e mãe branca, não tem melanina suficiente para representar Ivone Lara.
A intensidade dos protestos contra a escolha de Cozza nas redes sociais foi tamanha que fez com que a artista desistisse de atuar. Ela foi julgada por sua cor e nem sequer teve a chance de demonstrar se seu talento como atriz e cantora a credenciam para o papel —o que é profundamente injusto.
Entendo que o movimento opera com simbolismos e precisa pautar as muitas discussões de sua atribulada agenda, incluindo o colorismo, que são as diferentes cargas de discriminação a que negros estão sujeitos dependendo do tom de sua pele. Mas é profundamente lamentável que os militantes coloquem seus objetivos propagandísticos à frente do que deveria ser uma linha vermelha para todo ativismo antirracista, que é jamais discriminar uma pessoa, em especial uma mulher negra, por não ostentar a cor certa.
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