Como você sabe que o lenço de papel não sente nada quando você assoa seu nariz nele? 

Pergunta absurda, sentenciará o leitor pragmático. Pode ser, mas, no registro da filosofia, que precisa testar ideias até seus limites máximos, esse tipo de inquirição faz sentido.

Essa pelo menos é a impressão que ficamos ao ler “What Does It All Mean?” (o que tudo isso significa?) de Thomas Nagel. A obra foi recomendada por meu amigo Eduardo Giannetti não exatamente para mim, mas para meu filho, David, um adolescente que se interessa por filosofia. Comprei o livro para ele e, obviamente, não resisti e acabei lendo.

Giannetti tinha razão. “What Does...” é um texto primoroso. Partindo da ideia de que a melhor forma de aprender filosofia é refletindo diretamente sobre os problemas que ela aborda, Nagel, sem citar um único filósofo e trabalhando com noções quase intuitivas para adolescentes, nos lança num tour pelas grandes questões que desde sempre atormentam o homem: Temos livre-arbítrio? Por que agir moralmente? Existe vida após a morte? A vida faz sentido?

E o lenço de papel? Como chegamos a ele? Está no capítulo sobre a mente dos outros. Nós só temos acesso a nossa própria introspecção. Não temos nenhuma garantia de que a nossa experiência da cor verde, por exemplo, seja igual à de outra pessoa. E, se formos rigorosos, não estamos nem mesmo seguros de que os outros sintam alguma coisa ou de que tenham uma mente. Um pouco de ceticismo pode facilmente degenerar no solipsismo.

Temos, é verdade, o impulso instintivo de acreditar que outros seres humanos são conscientes como nós. Esse, contudo, não é um conhecimento seguro. E por que parar em humanos? Alguns bichos parecem conscientes. Mas o que dizer de insetos e protozoários? E as plantas? E com base em que podemos excluir pedras e lenços de papel? Um pouco de empatia pode facilmente degenerar no pampsiquismo.