Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Hélio Schwartsman

Por que peixes não existem

Livro da jornalista Lulu Miller apresenta biografia de David Starr Jordan em camadas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Sexo e assassinato. Acrescente um terremoto e um pouco de ciência e temos a receita para uma boa peça de ficção. E se não for ficção? Aí temos “Why Fish Don’t Exist” (por que peixes não existem), da jornalista Lulu Miller.

“Why Fish...” é um daqueles livros em camadas. Em princípio, é uma biografia de David Starr Jordan (1851-1931). O leitor brasileiro que não seja ictiólogo e não tenha passado por Stanford provavelmente jamais ouviu falar dele, mas trata-se de um personagem fascinante.

Biólogo incansável, foi responsável por classificar um quinto de todas as espécies de peixe conhecidas em sua época, não uma vez, mas duas. É que o grande terremoto de San Francisco, em 1906, destruiu quase toda a sua coleção. Pacientemente, ele refez o trabalho.

Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna Hélio Schwartsman de 14.fev.2021
Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna Hélio Schwartsman de 14.fev.2021 - Annette Schwartsman

Entra aí a camada pessoal da autora. Lulu se interessou pela resiliência de Jordan porque enfrentava uma crise amorosa. Uma noite de luxúria com uma mulher custara-lhe o relacionamento com o namorado. Lulu não aceitava o rompimento e imaginava que, se insistisse, poderia revertê-lo.

Ao pesquisar sobre Jordan, foi descobrindo facetas mais sombrias. Ele está envolvido no assassinato de Jane Stanford, a viúva de Leland Stanford, fundador da universidade com o mesmo nome, da qual Jordan foi o primeiro reitor. A dúvida é se ele encomendou o homicídio ou se só o acobertou.

E isso talvez nem seja o pior. Discípulo de Louis Agassiz, Jordan foi um ferrenho defensor da eugenia, que ajudou a transformar em política pública em vários estados dos EUA.

Miller, que começara a narrativa como uma admiradora de Jordan, vai se convertendo numa crítica feroz. Já para o final do livro, encontra consolo numa espécie de justiça poética. É quando entra a terceira camada do livro, a biológica. Jordan dedicara sua vida científica aos peixes, mas a taxonomia moderna não reconhece mais peixes como uma categoria. É a vida que perde o objeto.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.