Por coincidência ou não, depois que Jair Bolsonaro se encontrou com Vladimir Putin, a situação no Leste Europeu, que estava tensa, se tornou explosiva. Desculpem-me, não resisti à piada. Bolsonaro não tem a menor importância no cenário internacional, mas Putin tem. É ele que vai definir se haverá uma guerra aberta na Ucrânia ou se a movimentação de tropas ficará circunscrita ao Donbass.
Embora eu tenha lido algumas análises sugerindo que Putin não está no seu melhor juízo, o fato é que, ao longo dos últimos 20 anos, ele se comportou como um agente racional. Parece mais lógico, portanto, continuar a tratá-lo como tal. Nessa hipótese, ele não teria interesse em meter-se num conflito em larga escala nem com a Otan nem com a Ucrânia. Putin é um autocrata, mas que preza o apoio popular. E soldados voltando em sacos plásticos nunca fazem bem à popularidade. Mais importante, ele provavelmente consegue alcançar seus principais objetivos mantendo a crise num patamar menor.
Putin percebeu corretamente que os EUA não estão mais dispostos a pôr tropas em intervenções infindáveis em países que o americano médio tem dificuldades para localizar no mapa. Se ainda havia dúvidas sobre isso, elas acabaram com a retirada do Afeganistão. Não é absurda a aposta de que Biden não irá além de sanções econômicas contra a Rússia.
Os europeus partilham da inapetência americana por despachar soldados para defender a Ucrânia e, no caso dos alemães, ela se estende a sanções mais duras. Este inverno está no fim, mas haverá outros, e os alemães precisam do gás russo para aquecer suas casas. Putin percebeu a falta de unidade na Otan e tenta explorá-la em seu favor.
O que talvez atrapalhe os planos do ditador russo é que o Ocidente já vê que há mais em jogo. Se a Ucrânia sair barato para Putin, Pequim pode achar que é hora de avançar sobre Taiwan —e o mundo ficaria um lugar bem mais perigoso.
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