Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

A filosofia vai ao laboratório

Autores conclamam cientistas a juntar-se a esse esforço de pesquisa interdisciplinar

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"A filosofia é a ciência com a qual ou sem a qual o mundo vai tal e qual". A frase pode ser interpretada como uma crítica ao caráter altamente especulativo da filosofia. E é fato que filósofos se permitem voos que parecem pouco práticos à maioria. Às vezes isso ocorre porque filósofos têm mesmo muita imaginação, mas, às vezes, porque eles propõem questões que o mundo ainda não está pronto para responder. Avanços em ciências aplicadas podem estar mudando isso.

Num artigo curioso, Jorge Morales e Chaz Firestone se propõem a buscar em experimentos científicos respostas para questões filosóficas. Uma delas é a questão de Molyneux, sobre a natureza da percepção. Em 1688, William Molyneux escreveu a John Locke perguntando se um cego de nascença que soubesse identificar cubos e esferas pelo tato reconheceria essas formas se se tornasse capaz de ver.

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 29 de janeiro de 2023, mostra um homem usando camisa azul e óculos escuros -aparentemente cego- que segura na mão direita uma esfera de metal e, na esquerda, um cubo de metal.
Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman - Annette Schwartsman

Graças a avanços na oftalmologia, essa não é mais uma pergunta impossível. Pessoas acometidas de catarata congênita podem não enxergar, embora a afecção tenha fácil correção cirúrgica. Nos países ricos, o procedimento é realizado logo que a criança nasce, mas, nas nações mais pobres, vítimas da doença podem passar anos sem ver até ser operadas. Essa é mais uma das injustiças do mundo, mas permitiu a pesquisadores testar empiricamente a questão de Molyneux.

E eles concluíram que, ao menos num primeiro momento, os circuitos do tato e da visão não se comunicam. Pacientes que não tinham dificuldades para reconhecer as formas pelo tato ou pela visão separadamente se atrapalharam quando tinham de transportar o conceito formado em um sentido para o outro. Mas, com mais dias de pós-cirurgia, a performance melhorou, o que sugere um tipo de aprendizado.
Os autores levantam outros casos de respostas a perguntas filosóficas e conclamam cientistas a juntar-se a esse esforço de pesquisa interdisciplinar. É a filosofia no laboratório.

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