Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman
Descrição de chapéu violência

Faroeste policial

Esquerda não deveria abrir mão das ideias iluministas ao tratar de segurança pública

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São Paulo

A esquerda em geral tem dificuldades para lidar com a segurança pública. E a principal razão para isso é que a visão esquerdista da questão, herdeira do projeto iluminista e calcada no respeito aos direitos humanos, não é muito bem recebida pela população, que tende a preferir abordagens mais punitivistas, de olho em resultados rápidos e sem se importar muito com efeitos colaterais.

Não é uma surpresa que as pessoas se deixem pautar pelo medo. Thomas Hobbes, um produto do violentíssimo século 17, captura bem a escala do desejo de nossa espécie por segurança quando escreve que, para nos livrarmos da guerra de todos contra todos, que ele julgava ser o estado natural da humanidade, deveríamos nos submeter ao poder absoluto do soberano. Para Hobbes, só teríamos o direito de nos rebelar contra o chefe caso ele nos condenasse à morte.

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A doméstica Juliana Silva de Jesus, 39 anos, que perdeu o filho assassinado em Jequié, na Bahia, estado administrado pelo PT desde 2007; cidade é a mais violenta do Brasil - Rafaela Araújo/Folhapress - Folhapress

O irônico aqui é que o projeto iluminista vem produzindo bons resultados. Ainda que com variabilidades locais, vivemos hoje em sociedades muito menos violentas que as de séculos anteriores e recorrendo a sistemas de justiça que se valem de punições muito mais leves que as do passado e que são muito mais ciosos dos direitos dos acusados. Se isso não é sucesso, fica difícil imaginar o que seja.

O problema é que a população não usa as lentes da história para avaliar instituições. Ela não quer saber se estamos mais seguros do que no século 17. Só o que lhe importa é se ela se sente segura hoje, e a resposta é em geral "não". Afinal, basta ler sobre um crime bárbaro cometido nas redondezas para ativar a amígdala, disparando nossos alarmes internos.

Reconheço que as coisas são difíceis, mas penso que não devemos desistir do projeto iluminista. Dá perfeitamente para combater o crime sem atropelar direitos humanos e é sempre possível tentar educar a população. Tudo o que a esquerda não deveria fazer é aceitar a lógica de faroeste na segurança pública.

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